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ONU pede fim da “letalidade extrema” após operação que matou mais de 120 no Rio

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Genebra, 29 de outubro de 2025 — O Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, solicitou nesta quarta-feira (29) uma reforma “abrangente e eficaz” nos métodos de policiamento no Brasil. O apelo ocorre um dia depois da megaoperação que deixou mais de 120 mortos nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro.

A ação, realizada na terça-feira (28), foi classificada pelo governo fluminense como a mais letal da história do estado. Entre os mortos estão quatro policiais. Segundo as autoridades, o objetivo era cumprir 100 mandados de prisão e 180 de busca e apreensão contra integrantes do Comando Vermelho.

ONU questiona padrão de uso da força

Türk reconheceu os desafios impostos por grupos criminosos “violentos e bem organizados”, mas afirmou que a sucessão de operações com alto número de mortes, que atinge “desproporcionalmente pessoas de ascendência africana”, evidencia problemas na condução das ações policiais.

“Por décadas, a letalidade associada ao policiamento no Brasil foi se normalizando, especialmente no Rio”, afirmou o comissário. Ele defendeu que o país “rompa o ciclo de brutalidade extrema” e alinhe as operações de segurança aos padrões internacionais de uso da força, que preveem legalidade, necessidade, proporcionalidade e não discriminação.

Mecanismos independentes de investigação

O chefe do escritório de direitos humanos da ONU sugeriu a criação de estruturas independentes para investigar a operação, garantir acesso à justiça, oferecer reparação às famílias e apoiar comunidades afetadas. Segundo Türk, o emprego de força letal deve ocorrer apenas quando “estritamente necessário para proteger a vida ou evitar ferimentos graves diante de ameaça iminente”.

Na véspera, o Escritório das Nações Unidas para os Direitos Humanos já havia se declarado “horrorizado” com o resultado da ação, em mensagem publicada na rede X (antigo Twitter).

Operação mobilizou 2,5 mil agentes

De acordo com o governo do Rio, cerca de 2,5 mil policiais — incluindo efetivos de outros estados, como o Pará — participaram da ofensiva. O secretário de Segurança Pública, Victor Santos, afirmou que a alta letalidade era “previsível, mas não desejada” e classificou as mortes como um “dano colateral muito pequeno” diante do objetivo de enfraquecer o Comando Vermelho.

O secretário destacou que a operação foi planejada durante um ano e reiterou que a meta principal era cumprir os mandados judiciais emitidos contra a organização criminosa.

A repercussão internacional e a cobrança da ONU reacendem o debate sobre o modelo de policiamento no país e as estratégias para enfrentar o crime organizado sem repetir índices recordes de mortes.

Com informações de Gazeta do Povo