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Plano de usina binacional com a Bolívia gera críticas sobre custos e benefícios ao Brasil

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Brasília – O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a defender a construção de grandes hidrelétricas e pretende erguer uma usina binacional na fronteira com a Bolívia, aproveitando o potencial do Rio Madeira. A proposta, citada pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, busca repetir o modelo da usina de Itaipu, inaugurada em 1982.

Especialistas questionam viabilidade

Para o engenheiro e economista Erik Duarte Rego, o projeto tem caráter predominantemente político e apresenta poucas vantagens técnicas ou econômicas para o lado brasileiro. Segundo ele, os elevados gastos de construção e operação superariam os possíveis ganhos de geração.

Obra cara e desafios logísticos na Amazônia

A instalação de uma hidrelétrica na região amazônica exigiria grande volume de recursos, devido a dificuldades de transporte, acesso limitado e longos períodos de chuvas. Rego lembra que, nas usinas de Santo Antônio e Jirau, também no Rio Madeira, o custo das linhas de transmissão até o Centro-Sul quase igualou o valor de uma das próprias usinas.

Modelo “fio d’água” e geração instável

Pressões ambientais reduzem a possibilidade de grandes reservatórios, indicando o uso do modelo “fio d’água”. Nesse formato, a produção depende diretamente do regime de chuvas, podendo cair a níveis muito baixos na estação seca e encarecer a energia entregue ao sistema.

Alternativas mais baratas

De acordo com Rego, fontes eólica, solar e biomassa já conseguem entregar capacidade semelhante com custos de implantação menores. Ele avalia que, sem subsídios públicos, uma nova hidrelétrica desse porte não seria competitiva.

Precedente do Gasoduto Bolívia-Brasil

A cooperação energética com a Bolívia carrega histórico de incertezas. O Gasoduto Bolívia-Brasil, construído entre 1997 e 1999, viu seu contrato renegociado após a nacionalização do setor de petróleo e gás decretada pelo então presidente Evo Morales em 2006. O reajuste elevou em cerca de US$ 100 milhões por ano o custo do gás para o Brasil.

Financiamento ainda indefinido

Como o reservatório da nova usina ficaria integralmente em território boliviano, especialistas apontam que o Brasil arcaria com a maior parte do investimento e com a expertise técnica. A advogada Isabela Ramagem, porém, destaca que a Bolívia possui experiência recente em hidrelétricas, como San José 1 e San José 2, e poderia obter recursos do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) para participar financeiramente.

Enquanto o Planalto vê na parceria um projeto estratégico para a segurança energética, analistas ponderam que os riscos econômicos e políticos podem superar as vantagens potenciais para o contribuinte brasileiro.

Com informações de Gazeta do Povo