A Casa Branca confirmou que o ex-presidente norte-americano Donald Trump e o presidente russo Vladimir Putin se reunirão em 15 de agosto, no Alasca, numa cúpula convocada após mudança repentina de tom de Washington. O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky não foi convidado.
Da ameaça de sanções ao convite
Até a sexta-feira, 8 de agosto, auxiliares de Trump falavam em “ultimato” para que Moscou interrompesse a ofensiva na Ucrânia ou enfrentasse novas punições econômicas. Horas depois, o discurso se transformou em convite para um diálogo presencial no território norte-americano, movimento classificado por diplomatas europeus como “retrocesso suave” que favorece o Kremlin.
Histórico de zigues-zagues
Desde a invasão russa, em 2022, Trump alternou elogios a Putin — chamando sua estratégia de “genial” — e críticas a Kiev. Em vários comícios de 2024, prometeu encerrar a guerra em 24 horas se voltasse à Casa Branca, mas admitiu em março de 2025 que fora “um pouco sarcástico”.
Em 21 de fevereiro de 2025, durante encontro tenso no Salão Oval, o republicano acusou Zelensky de ser responsável pela guerra e o chamou de “ditador sem eleições”. O clima azedou ainda mais quando Trump afirmou: “Vocês nunca deveriam ter começado. Poderiam ter feito um acordo”.
Endurecimento recente
A partir de março, o tom mudou. Em 30 de março, Trump disse estar “irritado” com Putin e cogitou sobretaxar o petróleo russo se o conflito prosseguisse. Em 24 de abril, publicou na Truth Social: “Vladimir, PARE!”. Dois dias depois, ao encontrar Zelensky no Vaticano, insinuou que Moscou poderia enfrentar “bancos” e “sanções secundárias”.
Em julho, após o Pentágono suspender entregas de armamento, Trump prometeu enviar mais armas a Kiev e, em 13 de julho, ofereceu ajuda para obter sistemas Patriot financiados pela União Europeia.
A costura da reunião
A convocação da cúpula seguiu missão relâmpago de Steve Witkoff, representante especial de Trump, a Moscou em 6 de agosto. Durante três horas de conversa no Kremlin, Witkoff sugeriu reabilitar a economia russa, cancelando sanções e liberando o comércio de hidrocarbonetos. Em troca, Putin indicou aceitar cessar-fogo se a Ucrânia se retirasse até as fronteiras administrativas de Donetsk e Luhansk.
Trump endossou publicamente a possibilidade de uma “troca de territórios para benefício de ambos”, declaração que gerou confusão em Kiev: como a Ucrânia não controla solo russo, qualquer “troca” significaria ceder áreas hoje sob administração ucraniana.

Imagem: Vandré Kramer via gazetadopovo.com.br
Reação de Kiev e da Europa
Zelensky repudiou a proposta em vídeo: “Ninguém recuará. Os ucranianos não darão sua terra ao ocupante”. Governos europeus temem ser excluídos de um eventual acordo e organizaram reunião emergencial em Londres com altos funcionários dos EUA.
Comandado pelo chanceler britânico David Lammy e pelo vice-presidente norte-americano JD Vance, o encontro fixou três condições: cessar-fogo antes de discussões territoriais; proibição de entregar terras não ocupadas pela Rússia; e garantias de segurança “inabaláveis”, incluindo possível ingresso da Ucrânia na OTAN.
Primeiro encontro em quatro anos
A cúpula do Alasca será a primeira reunião formal entre líderes dos dois países desde 2021 e a mais visível aparição internacional de Putin após a invasão de 2022. Analistas veem ganho simbólico para Moscou, enquanto europeus alertam que concessões podem estimular novas investidas russas, especialmente nos Bálcãs e nos Bálticos.
A agenda completa do encontro e a participação eventual de outros atores internacionais ainda não foram confirmadas.
Com informações de Gazeta do Povo