A nova rodada de tarifas sobre produtos brasileiros, formalizada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na quarta-feira (30), afeta 56,6% das vendas do Brasil para o mercado norte-americano, calculou a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) com base em dados da Comissão de Comércio Internacional dos EUA (USITC).
Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a medida reduz competitividade, ameaça empregos e compromete investimentos de longo prazo. O Bradesco estima impacto máximo de até US$ 9,4 bilhões na balança comercial em 12 meses — projeção menor que os US$ 15 bilhões previstos antes da lista de isenções. Estudo do banco Daycoval reduz de 0,3 para 0,13 ponto percentual a perda potencial do PIB.
Setores mais prejudicados
Agronegócio e proteína animal – Carnes bovinas terão tarifa total de 74%, virtualmente inviabilizando os embarques que superaram US$ 1 bilhão no primeiro semestre de 2025. JBS e Marfrig precisarão desviar produção para China, Ásia e Oriente Médio.
Piscicultura – Tilápia, altamente dependente dos EUA, perde mercado e cria excedente interno. A GeneSeas é apontada como a mais exposta; entre as companhias listadas, a BRF sente efeito indireto.
Mineração – Minério de ferro paga 50% de tarifa. Vale e CSN Mineração devem buscar novos compradores, pressionando preços globais.
Açúcar – Sobretaxa eleva custos e pode inviabilizar exportações. Cosan e São Martinho avaliam redirecionar cargas para Ásia e Oriente Médio.
Autopeças – Componentes para veículos leves serão taxados em 27,5%; peças para máquinas agrícolas e caminhões, em 52,5%. Fras-le e Iochpe-Maxion projetam perda de receita.
Máquinas e equipamentos – EUA concentram 26,6% das vendas externas do segmento. WEG, Tupy e Randon enfrentam retração e podem redirecionar produção.
Celulose e papel – Tarifa de 50% adiciona mais de US$ 300 por tonelada. A Suzano, com até 19% da receita na América do Norte, revisa planos de venda.

Imagem: Wenderson Araujo via gazetadopovo.com.br
Têxtil e calçados – Alíquota de 50% atinge Alpargatas e Arezzo, com possível redução de faturamento e emprego no Sul do país.
Setores poupados ou beneficiados
Petróleo e derivados – Quase todas as operações ficaram isentas. A Petrobras mantém acesso ao mercado norte-americano sem sobretaxa, preservando receitas.
Aviação comercial – Componentes específicos da indústria aeronáutica foram liberados da tarifa de 50%. A Embraer, que possui produção nos EUA e depende de peças importadas do Brasil, mantém cronograma de entregas, principalmente do modelo E175.
Suco de laranja – Tarifa moderada de 10% permite continuidade dos embarques. Cutrale e Citrosuco preservam acesso a um mercado que respondeu por 41,7% das vendas externas na safra 2024/25.
Especialistas atribuem as isenções a necessidades estratégicas dos EUA. “Foi poupado aquilo que ainda é essencial para a economia americana”, resume Hugo Garbe, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Apesar dos alívios pontuais, 59% dos exportadores consultados pela Amcham Brasil preveem interrupção total ou forte queda nas vendas aos Estados Unidos, reforçando o quadro de preocupação generalizada.
Com informações de Gazeta do Povo