O Brasil enfrenta um cenário de forte tensão econômica após a entrada em vigor, neste mês, das tarifas de 50% impostas pelo governo de Donald Trump sobre produtos nacionais. A medida já provoca perdas estimadas em bilhões de reais, enquanto autoridades em Brasília correm para definir uma resposta formal.
Impacto imediato nas exportações
As novas alíquotas foram justificadas por Washington como reação a “políticas, práticas e ações recentes” do governo brasileiro consideradas ameaças à segurança e à economia dos Estados Unidos. Entre os motivos citados está a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Segundo cálculo preliminar da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), o aumento tarifário pode reduzir o Produto Interno Bruto brasileiro em R$ 25,8 bilhões e eliminar 146 mil empregos num horizonte de curto prazo. No mercado norte-americano, a carne bovina brasileira passou a chegar às prateleiras com preço 74% superior ao da concorrência local. Ainda assim, cerca de 700 itens, em especial derivados de petróleo, ficaram isentos, em linha com a estratégia dos EUA de proteger sua própria cadeia produtiva.
Reação em Brasília
A Câmara de Comércio Exterior (Camex) aprovou a abertura de consulta à Organização Mundial do Comércio (OMC), mas o processo aguarda assinatura presidencial para avançar. Em paralelo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, negocia com autoridades norte-americanas a oferta de “terras raras” como moeda de troca por investimentos em componentes tecnológicos.
O governo também prepara um plano de contingência que inclui linhas de crédito subsidiadas e medidas de preservação de empregos. Haddad conclamou governadores de oposição e empresários a se unirem ao Planalto, acusando sectores da “extrema-direita” de favorecerem interesses estrangeiros. Críticos afirmam que o Executivo demorou a agir para evitar a crise.
Ameaça de exclusão do Swift
Nos bastidores, cresce o temor de que o Brasil seja excluído do sistema de comunicação bancária Swift, sanção já aplicada a países como Rússia e Irã. Especialistas comparam a medida a uma “bomba atômica” financeira, capaz de paralisar o comércio exterior e provocar fuga de capitais. Como alternativa, o Banco Master já opera no CIPS, rede chinesa usada para transações internacionais sem o dólar.
Política monetária em compasso de espera
Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a Selic em 15%, citando “maior incerteza no cenário externo” após o tarifaço. A ata destacou a inflação acima da meta de 3% e a necessidade de harmonia entre política fiscal e monetária para evitar elevação da taxa neutra de juros.

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Investimentos privados mantêm otimismo
Apesar do ambiente adverso, empresas anunciaram aportes bilionários no país. O iFood prevê investir R$ 17 bilhões entre abril de 2025 e março de 2026 para ampliar tecnologia, marketing, crédito a restaurantes e desenvolvimento de inteligência artificial, enfrentando a concorrência de grupos chineses como Meituan e 99Food.
Já a Volkswagen destinará R$ 16 bilhões ao Brasil até 2028, parte de um pacote de R$ 20 bilhões para a América do Sul. O plano inclui a produção do SUV Tera, desenvolvido integralmente no país, e projetos de eletrificação com foco em veículos híbridos e elétricos.
Para Luís Garcia, sócio do Tax Group e do MDL Advogados, “o discurso político e as ações inócuas apenas agravam a perda de competitividade e o risco de redução de mercados, investimentos e empregos”.
Com informações de Gazeta do Povo