Brasília – Começam a valer nesta quarta-feira, 6 de agosto, as alíquotas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. Anunciado por Donald Trump em 9 de julho, o aumento tarifário atinge percentuais superiores aos aplicados a Venezuela (15%) e Nicarágua (18%), mas, até agora, o Palácio do Planalto não apresentou medidas concretas para amparar empresas e produtores.
Ausência de iniciativas oficiais
Apesar de encontros diários entre representantes do setor produtivo e o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, nenhuma ação prática foi divulgada. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, limita-se a declarar que o governo “estuda” alternativas.
Para o advogado tributarista Guilherme Peloso Araújo, o Executivo federal segue apenas explorando politicamente o episódio: “As manifestações são mais retóricas que efetivas”, resumiu.
Negociação travada
Segundo um porta-voz da Casa Branca, Brasília não apresentou propostas relevantes para tentar atenuar as tarifas. Haddad admitiu, nesta terça-feira (5), negociar terras raras, mas condicionou a oferta a novos investimentos norte-americanos no país, exigência considerada insuficiente por Washington.
Exceções definidas por Trump
No decreto que detalha o tarifaço, a administração Trump listou quase 700 exceções. Alckmin calcula que 65% das exportações do Brasil ficaram de fora da sobretaxa; estimativas privadas, contudo, apontam que apenas 40% a 45% escaparam.
O advogado Luiz García, do MDL Advogados, observa que o único alívio veio do próprio governo americano, que quis resguardar o mercado interno dos EUA. “Enquanto isso, não houve corte de tributos ou redução de gastos públicos no Brasil”, disse.
Plano de contingência indefinido
Alckmin prometeu apresentar um pacote emergencial “em poucos dias”, incluindo compras governamentais e linhas de crédito. José Augusto de Castro, diretor da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), duvida da rapidez: “Ouvir mais e falar menos é o caminho, já que não sabemos o próximo passo dos EUA”.

Imagem: YURI GRIPAS via gazetadopovo.com.br
Impacto já sentido
O anúncio do tarifaço reverteu o fluxo de capital estrangeiro na B3; julho fechou com saída líquida de R$ 6,3 bilhões, pior resultado para o mês desde 2021. Em ata divulgada nesta terça, o Banco Central citou o risco tarifário como um dos motivos para manter a Selic em 15%.
Pelo levantamento da Amcham Brasil, mesmo considerando as exceções, as perdas podem chegar a US$ 23,9 bilhões. O Bradesco revisou projeção para US$ 9,4 bilhões, enquanto a Fiesp estima recuo de 0,20% no PIB deste ano e de 0,38% em 2026.
Reação das empresas
Frigoríficos, fabricantes de armas e outros segmentos já anunciam demissões, férias coletivas ou estudo de transferência total da produção para território americano. Antes da lista de exceções, o Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica e Ambiental Aplicada (UFMG) estimou até 110 mil cortes de vagas — 40 mil na agropecuária, 31 mil no comércio e 26 mil na indústria.
Diante da morosidade federal, governos estaduais como Goiás, São Paulo e Minas Gerais elaboram seus próprios planos para auxiliar companhias mais afetadas.
Com informações de Gazeta do Povo