Brasília – A decisão do presidente norte-americano Donald Trump de impor tarifa de 50% a produtos brasileiros e de colocar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, na lista de sanções da Lei Magnitsky abriu uma crise na articulação eleitoral entre a família Bolsonaro (PL) e líderes do Centrão com vistas a 2026.
Pressão externa e desconforto interno
Anunciada pela Casa Branca na semana passada, a medida foi justificada como reação à suposta “perseguição judicial” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. O gesto americano acabou criando atritos na direita brasileira: o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) criticou governadores vistos como potenciais candidatos ao Planalto – Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ratinho Jr. (PSD-PR), Ronaldo Caiado (União Brasil-GO) e Romeu Zema (Novo-MG) – além do colega de partido Nikolas Ferreira (PL-MG), cobrando posicionamento firme em defesa do tarifaço e contra Moraes.
Em resposta, esses governadores optaram por se manter distantes das manifestações realizadas no domingo (3) em cerca de 70 cidades. A ausência foi lida como tentativa de evitar confronto direto com o STF e de se desvincular da crise comercial com os Estados Unidos.
Manifestações marcadas por ausências
Os atos levaram dezenas de milhares de pessoas às ruas de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Salvador, Belém, Campo Grande, Goiânia, Curitiba e Porto Alegre. Jair Bolsonaro não compareceu por usar tornozeleira eletrônica. Aliados lamentaram a falta de figuras de peso, enquanto Eduardo Bolsonaro intensificou críticas nas redes.
Aliança sob teste
Para o cientista político Leonardo Barreto, da consultoria Think Policy, o episódio submete a coalizão entre direita e centro-direita a “um teste decisivo”. Segundo ele, o Centrão deseja o eleitorado bolsonarista, mas resiste à liderança direta do ex-presidente. A saída negociada cogitada nos bastidores prevê o apoio de Bolsonaro a um nome do bloco em troca de respaldo a uma eventual anistia, caso seja condenado nos processos que enfrenta.
Cálculo eleitoral dos governadores
Em evento da Expert XP, no fim de julho, Tarcísio, Caiado e Ratinho cobraram a participação de Bolsonaro na eleição de 2026, mesmo inelegível até 2030, mas evitaram críticas ao STF e atribuíram a Lula o tarifaço. Zema destoou: lançou-se pré-candidato, atacou STF e governo federal, sugeriu que a saída do Brasil do Brics poderia aliviar a tensão comercial e defendeu anistia ao ex-presidente.
Cobranças de aliados
Além de Eduardo, o pastor Silas Malafaia usou as redes para acusar governadores de “omissão” diante de Moraes. Nikolas Ferreira, inicialmente criticado, adotou tom conciliador, classificando a sanção ao ministro como “marco” contra abusos de autoridade e acabou sendo um dos principais oradores nos protestos de Belo Horizonte e São Paulo.

Imagem: Sílvio RibasBrasília via gazetadopovo.com.br
Governo Lula explora o tema
O Palácio do Planalto passou a adotar discurso nacionalista, destacando o impacto das tarifas sobre a economia brasileira e reforçando a narrativa de perseguição judicial a Bolsonaro. A equipe de Lula também aponta a possibilidade de condenação do ex-presidente ainda neste semestre, trajetória que mobiliza a base petista.
Projeções para 2026
Para o analista Ismael Almeida, a tensão é momentânea e não deve romper o bloco conservador. Ele avalia que, apesar das divergências sobre o confronto com o STF e sobre os efeitos econômicos do tarifaço, o objetivo comum de derrotar Lula em 2026 tende a manter unidas as alas direita e centro-direita.
A crise, entretanto, expõe a dificuldade de conciliar o protagonismo de Bolsonaro, os interesses do Centrão e os custos políticos e econômicos da escalada diplomática com os Estados Unidos.
Com informações de Gazeta do Povo