Home / Economia / Tarifaço dos EUA atinge café e carne bovina, e preços podem cair no mercado interno

Tarifaço dos EUA atinge café e carne bovina, e preços podem cair no mercado interno

rss featured 14992 1753976591

O aumento de 50% nas tarifas de importação anunciado pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros deixará de fora quase 700 itens, mas café em grão e carne bovina não figuram na lista de exceções. A sobretaxa, que passa a valer em 6 de agosto de 2025, pressiona o governo brasileiro e as cadeias exportadoras a buscar um acordo de última hora.

Exportações em risco

Entre janeiro e junho deste ano, o café em grão foi o produto agropecuário brasileiro de maior receita nos EUA: US$ 1,17 bilhão, correspondentes a 16% de todas as vendas externas do grão, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Na sequência veio a carne bovina, com US$ 1,03 bilhão. Desse total, a proteína congelada e desossada respondeu por US$ 791 milhões (12% das exportações totais), enquanto a carne industrializada gerou US$ 239 milhões, 65% direcionados ao mercado norte-americano.

Se o novo imposto for mantido, empresários avaliam que o custo para os importadores dos EUA se tornará proibitivo, exigindo a abertura de novos mercados.

Impacto no consumidor brasileiro

Para o economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Getulio Vargas (FGV), a redução das remessas externas pode derrubar, no curto prazo, os preços internos de café e carne bovina. “Esse aumento de oferta precisa ser escoado e isso realmente pode baratear o produto”, afirma. Ele pondera, porém, que o efeito não se sustenta se os exportadores ajustarem a produção para preservar margens.

No café, a safra atual é projetada como a melhor dos últimos anos, reforçando a expectativa de deflação após alta acumulada de 80% em 12 meses. Já na carne bovina, o ajuste tende a ser menor, pois há forte demanda de China e outros países asiáticos e a perspectiva de abertura do mercado japonês, depois de o Brasil ter sido declarado livre de febre aftosa sem vacinação.

Setores buscam negociação

A Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) vê na prorrogação da data de vigência — de 1.º para 6 de agosto — uma margem para incluir o grão na lista de isenções. A entidade lembra que o governo norte-americano costuma rever escaladas tarifárias.

O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) e a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) também mantêm diálogo com a National Coffee Association, destacando que os EUA compram cerca de 2 milhões de sacas de cafés especiais do Brasil por ano, gerando receita superior a US$ 550 milhões.

Tarifaço dos EUA atinge café e carne bovina, e preços podem cair no mercado interno - Imagem do artigo original

Imagem: José Cláudio Guimarães via gazetadopovo.com.br

No setor de carnes, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) calcula que a alíquota total sobre a proteína bovina chegará a 76,4%, soma da tarifa atual de 26,4% com o novo adicional de 50%, inviabilizando as vendas. Em 2024, o país embarcou 229 mil toneladas para os EUA e projetava 400 mil toneladas para 2025.

Outros segmentos afetados

A indústria florestal comemora a inclusão da celulose de eucalipto na lista de exceções, mas lamenta a taxação sobre painéis de madeira e diversos tipos de papel. Ainda assim, o setor ganhou com a permanência do ferro-gusa entre os itens isentos.

Frutas, pescados e mel também ficaram fora das isenções. Segundo a Abrafrutas, manga, uva e frutas processadas somaram US$ 134,5 milhões em exportações aos EUA em 2024, respondendo por 90% do total do segmento. A Abipesca solicitou ao governo uma linha emergencial de crédito de R$ 900 milhões, alegando que 70% dos pescados exportados têm como destino o mercado norte-americano. Já a Abimel lembra que os EUA absorveram 76% das vendas externas brasileiras de mel nos últimos cinco anos.

Indústrias e entidades seguem articuladas com o governo federal em busca de alternativas para reverter ou mitigar as novas tarifas antes que entrem em vigor.

Com informações de Gazeta do Povo