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Tarifa de 50% nos EUA leva estrangeiros a retirar R$ 6,3 bilhões da Bolsa brasileira em julho

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Brasília – 04/08/2025, 17h30. A decisão do ex-presidente norte-americano Donald Trump de aplicar tarifa de 50% sobre produtos brasileiros provocou a maior fuga de capital estrangeiro da B3 em um mês de julho desde 2021. O saldo líquido negativo chegou a R$ 6,3 bilhões, segundo dados da própria Bolsa.

Reversão após semestre de forte entrada

A saída teve início em 9 de julho, data em que Trump comunicou a medida ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O movimento colocou fim a um primeiro semestre positivo, quando aportes de R$ 26,4 bilhões impulsionaram o Ibovespa a alta de 15,4% – melhor desempenho semestral desde 2016.

Mesmo com a retirada, o fluxo estrangeiro de 2025 ainda é positivo em R$ 20,6 bilhões, mas continua inferior à evasão de R$ 24 bilhões registrada no segundo semestre de 2024, que levou o dólar ao recorde de R$ 6,35 em 19 de dezembro daquele ano.

Analistas veem aversão ao risco

Para Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, o quadro reflete “aversão ao risco diante da incerteza global e do protecionismo de Trump”. Ele lembra que emergentes costumam ser os primeiros a sofrer quando o ambiente externo fica volátil.

A tendência deve ganhar força após a ordem executiva confirmada em 30 de julho. Embora quase 700 produtos tenham sido excluídos da lista, o Brasil segue como país mais impactado, observou Pedro Ros, da Referência Capital: “É um momento de muita cautela no mercado global”.

Diferencial de juros perde apelo

Na mesma quarta-feira (30), o Banco Central manteve a Selic em 15% ao ano. Ainda assim, o diferencial de juros para os Estados Unidos encolheu. O Federal Reserve manteve suas taxas entre 4,25% e 4,5% pelo quinto encontro consecutivo, e sinalizou pouca pressa para cortes. “Com o Fed resistente a reduzir juros, os títulos americanos ganham atratividade”, explicou Rodrigo Miotto, da Nippur Finance.

Ferramenta do CME aponta chance de 60% a 64% de corte de 0,25 ponto percentual nos EUA já em setembro, chegando a quase 90% até o fim de 2025 – cenário que poderia favorecer novamente as ações brasileiras.

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Imagem: criada utilizando Dall-E via gazetadopovo.com.br

Tarifas e fiscal no centro das atenções

Especialistas afirmam que o desempenho da Bolsa nos próximos meses dependerá da evolução do embate tarifário e do compromisso fiscal do governo. “Sem uma sinalização clara de corte de gastos e de cumprimento da meta, investidores tendem a reduzir posição”, disse Miotto.

Ainda assim, algumas instituições enxergam oportunidades. O Bradesco BBI mantém o Brasil como preferência na América Latina, avaliando as ações locais como “entre as mais baratas do mundo”. A expectativa é de possível rali do Ibovespa no segundo semestre, impulsionado pela antecipação do ciclo de afrouxamento monetário e pela aproximação das eleições de 2026.

Contudo, Murilo Viana, analista de contas públicas, alerta para impactos além do mercado acionário. “Mais importante que a Bolsa é o investimento produtivo. Uma escalada nas tensões com os EUA pode afetar também o fluxo de investimento direto externo”, afirmou.

Com informações de Gazeta do Povo