Um encontro promovido pelo Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara dos Deputados, no início de julho, contou com a participação de integrantes do Naturei Karta, corrente ultraortodoxa judaica que defende o fim do Estado de Israel e mantém relação próxima com o regime iraniano.
Durante a sessão, o rabino Yisroel Dovid Weiss subiu à tribuna e reiterou a posição do grupo contra a existência do Estado israelense. No dia 7 de julho, o ministro do Interior de Israel, Moshe Arbel, revogou de forma permanente o visto de Weiss, citando um encontro do religioso, no Brasil, com o chanceler iraniano Abbas Araghchi.
Quem são os Naturei Karta
Fundado em meados do século XX, o Naturei Karta é um movimento judaico fundamentalista que vê a criação de Israel como uma afronta à vontade divina. Para seus membros, o povo judeu vive em exílio decretado pela Bíblia e só poderia voltar a ter um Estado por intervenção celestial, não por ação humana.
O grupo é minoritário dentro do judaísmo e ganhou notoriedade por comparecer a eventos de negação do Holocausto e manifestações pró-Palestina. Em 2006, representantes estiveram em uma conferência em Teerã que questionou o genocídio nazista, na presença do então presidente Mahmoud Ahmadinejad. Três anos depois, visitaram a Faixa de Gaza e se reuniram com a liderança do Hamas, incluindo Ismail Haniyeh.
Críticas de especialistas
A coordenadora acadêmica do Hillel Rio, Daphne Klajman, considera “preocupante” a aproximação do governo brasileiro com o Naturei Karta. Segundo ela, o grupo é utilizado como “interlocutor judaico” enquanto mantém vínculos com autoridades iranianas, país acusado de financiar o ataque de 7 de outubro de 2023 contra Israel.
Klajman também ressalta que, apesar de se aproximarem de movimentos de esquerda por compartilharem o antissionismo, os Naturei Karta rejeitam pautas como direitos LGBT e igualdade de gênero, o que, na avaliação da pesquisadora, contrasta com os princípios progressistas.
Presenças na cerimônia
O ato na Câmara contou ainda com o deputado federal e ex-ministro Paulo Pimenta, que participou da mesa ao lado de Weiss. Para críticos, a presença do rabino em um evento oficial amplia a tensão entre o governo brasileiro e parte da comunidade judaica local, que cobra ações contra o crescimento de incidentes antissemitas desde outubro de 2023.
O governo israelense, por sua vez, classifica o Naturei Karta como aliado de inimigos que pregam a destruição de Israel, motivo pelo qual mantém os rabinos sob restrições de entrada no país.
Com informações de Gazeta do Povo