Dezenas de milhares de pessoas foram às ruas em mais de 30 cidades brasileiras no domingo, 3 de agosto, para pedir o impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e a saída do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os atos, capitaneados pelo movimento “Reaja Brasil”, concentraram‐se na Avenida Paulista, em São Paulo, e em avenidas centrais de capitais como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Belém e Goiânia.
Organização e ausência de Bolsonaro
O ex-presidente Jair Bolsonaro não compareceu às manifestações por estar submetido a medidas cautelares que incluem o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de acesso às redes sociais. Mesmo ausente, ele participou por videochamada durante o ato em São Paulo, promovida pelo deputado Nikolas Ferreira (PL-MG). Lideranças do Partido Liberal (PL) celebraram a adesão popular; Valdemar da Costa Neto, presidente da sigla, afirmou ter visto a Paulista “muito lotada”.
A mobilização ganhou fôlego após os Estados Unidos aplicarem sanções a Moraes com base na Lei Magnitsky, que veta a entrada de acusados de violações de direitos humanos em território norte-americano. O deputado Paulo Bilynskyj (PL-SP) comparou a medida à atuação de facções criminosas, enquanto críticas também citaram um gesto obsceno feito pelo ministro durante partida de futebol.
Participações e discursos
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro liderou o protesto em Belém e classificou os atos como “reação às injustiças”. No Rio de Janeiro, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o governador Cláudio Castro (PL-RJ) marcaram presença em Copacabana; Flávio chamou a sanção norte-americana a Moraes de “vergonha brasileira”. Em Goiânia, o deputado Gustavo Gayer (PL-GO) afirmou que “o tempo do medo acabou”.
O pastor Silas Malafaia, um dos organizadores, lamentou a ausência de governadores cotados para disputar o Planalto, entre eles Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), que alegou estar em recuperação de um procedimento médico. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), participou da passeata na capital paulista.
Pautas no Congresso
Manifestantes também pediram anistia aos presos pelos atos de 8 de janeiro de 2023. Nikolas Ferreira pressionou o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), a pautar o projeto. Vaiado na Avenida Paulista e chamado de “inimigo da nação”, Motta declarou ser contrário a “misturar pautas”. A oposição pretende usar a mobilização para avançar tanto na anistia quanto em novo pedido de impeachment contra Moraes. Uma nova manifestação foi marcada para 7 de setembro.
PT faz mudança interna e discute futuro sem Lula
No mesmo domingo, Edinho Silva assumiu a presidência nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), defendendo a preparação da legenda para um cenário pós-Lula. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é apontado como possível sucessor, mas Edinho destacou que o “substituto” será um PT articulado nacionalmente.

Imagem: Thiago Vieira via gazetadopovo.com.br
Em entrevista, Lula reafirmou a intenção de concorrer à reeleição em 2026, condicionando a decisão ao próprio estado de saúde. Ele mencionou o exemplo do presidente norte-americano Joe Biden, que desistiu da corrida eleitoral em razão de questionamentos sobre idade e capacidade física. Lula também defendeu o retorno à vida pública de José Dirceu, Delúbio Soares, João Vaccari Neto e José Genoino, cujas condenações na Lava Jato ou no Mensalão foram anuladas ou extintas.
O presidente comentou ainda o relacionamento com Donald Trump, novamente na Casa Branca. Disse ter “limite de briga” com Washington após o republicano elevar em 50 % a tarifa sobre produtos brasileiros e denunciar perseguição política contra Bolsonaro.
Datafolha aponta cenário apertado em 2026
Pesquisa do Instituto Datafolha divulgada no sábado, 2 de agosto, mostra Lula à frente no primeiro turno, mas tecnicamente empatado no segundo. O petista aparece com 47 % das intenções de voto contra 43 % de Jair Bolsonaro, diferença dentro da margem de erro de dois pontos. Em outro cenário, Lula registra 45 % diante de 41 % do governador paulista Tarcísio de Freitas, também empate técnico. O levantamento ouviu 2.004 eleitores em 130 municípios.
Um próximo ato nacional da oposição está marcado para o Dia da Independência, 7 de setembro, quando novos discursos contra Moraes e em defesa da anistia deverão voltar ao centro dos protestos.
Com informações de Gazeta do Povo