Dez dias após o início da sobretaxa de 50% aplicada pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, o diálogo para amenizar o impacto segue sem avanço. O principal encontro sobre o tema, previsto para quarta-feira (13) entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, foi cancelado sem nova data, segundo informou o próprio ministro. A justificativa apresentada pela equipe de Bessent foi “conflito de agenda”.
O cancelamento ocorre em meio a uma série de declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que aumentam a tensão com Washington e dificultam a busca de exceções ou a revisão da alíquota determinada pelo presidente Donald Trump. A seguir, as seis falas do chefe do Executivo que mais repercutiram:
1. “EUA tentam criar imagem de demônio”
Durante o lançamento da Medida Provisória que instituiu o Plano Brasil Soberano, na quarta-feira (13), Lula disse que os Estados Unidos pintam adversários como inimigos e classificou o embate atual como “político e ideológico”.
2. Lembrança do apoio norte-americano ao golpe de 1964
No mesmo evento, o presidente mencionou o envolvimento de Washington na deposição de João Goulart. “Relevamos até o golpe de 64”, afirmou, destacando que o Brasil busca manter relações pacíficas apesar do histórico.
3. Crítica à revogação de vistos de ministros do STF
Ao abrir a 4ª Conferência Nacional de Economia Popular e Solidária, também na quarta-feira (13), Lula condenou a anulação de vistos de magistrados brasileiros. “Isso não é civilidade. É um mau exemplo para a humanidade”, declarou.
4. “Declaração de Trump é mentira”
Em 14 de agosto, o presidente rebateu Trump, que chamara o Brasil de “péssimo parceiro comercial”. Lula afirmou que os EUA obtêm superávit com o Brasil e acusou o líder norte-americano de divulgar “mentiras”.
Imagem: Marcelo Camargo via gazetadopovo.com.br
5. “Brasil não vai ficar chorando”
Na inauguração de uma fábrica de hemoderivados em Pernambuco, em 15 de agosto, Lula disse que o país buscará novos mercados caso os EUA mantenham as restrições. Citou China, Índia, Rússia, Alemanha e Filipinas como destinos potenciais.
6. Capitólio e julgamento hipotético
Na conferência de economia solidária, Lula afirmou que, se a invasão ao Capitólio tivesse ocorrido no Brasil e Trump fosse candidato local, “também estaria sendo julgado”.
Apesar das críticas, o governo brasileiro insiste que pretende negociar. “Quem não quer negociar são eles”, declarou Lula ao rebater acusações de bravata. O ministro Fernando Haddad afirmou que continua aberto ao diálogo, mas não há sinalização de nova rodada de conversas com o Tesouro norte-americano.
Com informações de Gazeta do Povo