Brasília – A detenção do ex-presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) Alessandro Antônio Stefanutto, ocorrida na quinta-feira (13), durante a nova fase da Operação Sem Desconto, colocou novamente a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS no centro das disputas políticas no Congresso.
A Polícia Federal cumpriu 10 mandados de prisão preventiva e realizou buscas em 15 estados contra suspeitos de fraudes previdenciárias. Segundo o inquérito, Stefanutto, que presidiu o órgão entre o final do governo Jair Bolsonaro e o início da gestão Luiz Inácio Lula da Silva, receberia propina mensal de R$ 250 mil.
Nova dinâmica na CPMI
Após as prisões, o presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), afirmou que a comissão chegou ao “ponto médio” das investigações, com servidores e operadores já identificados. Ele anunciou que todos os requerimentos pendentes — inclusive convocações e quebras de sigilo — serão votados sem acordos prévios, com o objetivo de rastrear o núcleo político do esquema.
O relator, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), destacou a existência de “fluxo intenso” de recursos entre associações, empresas de fachada e contas de passagem. Segundo ele, quebras de sigilo aprovadas pela CPMI indicam movimentações financeiras incompatíveis com a renda declarada de investigados.
Lista de alvos da operação
Além de Stefanutto, foram presos:
- André Paulo Fidelis – ex-diretor de Benefícios do INSS;
- Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Neto – procurador (capturado após tentativa de fuga);
- Vinícius Ramos da Cruz – presidente do Instituto Terra e Trabalho, ligado à Conafer;
- Thaisa Hoffman – prisão domiciliar por estar amamentando;
- Tiago Abraão Ferreira Lopes;
- Samuel Crisóstomo de Bonfim Júnior – operador financeiro da Conafer;
- Cícero Marcelinho de Santos – ex-integrante de comissão;
- Antônio Carlos Camilo, o “Careca do INSS” – já detido, recebeu novo mandado.
Carlos Roberto Ferreira Lopes, presidente da Conafer, não foi localizado.
Reações da oposição
Para senadores e deputados oposicionistas, a prisão de Stefanutto confirma suspeitas de interferência política nas fraudes. O senador Rogério Marinho (PL-RN) lembrou que o ex-dirigente comandou a transição do INSS entre os governos Bolsonaro e Lula. Já Eduardo Girão (Novo-CE) classificou o episódio como “xeque-mate” na narrativa governista e disse que o esquema pode superar outros escândalos em valor desviado.
O líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), afirmou que “a casa caiu” para aliados do Palácio do Planalto e criticou gestões petistas por, segundo ele, “profissionalizar a corrupção”. Marcel van Hattem (Novo-RS) cobrou explicações sobre movimentações financeiras apontadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) envolvendo pessoas próximas ao presidente Lula.
Posicionamento do governo
Parlamentares da base aliada rejeitaram a tese de pressão sobre o Executivo. O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), ressaltou que nove dos dez mandados de prisão têm relação com indicados da gestão anterior. Ele afirmou que é no atual governo que as fraudes estão sendo investigadas e os recursos, bloqueados.
O vice-líder do governo, senador Weverton Rocha (PDT-MA), citado em relatórios da PF pela proximidade com investigados, negou qualquer irregularidade. Sua assessoria informou que ele não é alvo formal da operação.
Defesa de Stefanutto
Em nota, os advogados de Alessandro Stefanutto consideraram a prisão preventiva ilegal e disseram que o ex-presidente do INSS colaborou desde o início das apurações, comprometendo-se a provar inocência.
Com a documentação apreendida e a análise de quebras de sigilo já autorizadas, a CPMI planeja acelerar depoimentos e votações para rastrear eventuais beneficiários políticos dos contratos e Acordos de Cooperação Técnica que permitiam descontos automáticos em aposentadorias.
Com informações de Gazeta do Povo