Brasília – Uma sequência de articulações no campo conservador nas últimas semanas consolidou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como favorito do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para disputar o Palácio do Planalto em 2026. No mesmo movimento, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) passou a ser tratada como provável candidata a vice, carregando o sobrenome do marido e o apoio de eleitorados evangélico e feminino.
Sinais públicos
O primeiro indicativo veio na quarta-feira (12), durante o lançamento da pré-candidatura da deputada Bia Kicis (PL-DF) ao Senado. O ato, lotado de dirigentes do PL, contou com a presença de Michelle Bolsonaro e do presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto. Até então, Michelle liderava todas as pesquisas para a mesma vaga pelo Distrito Federal.
Kicis justificou a empreitada como estratégia para ampliar a bancada de direita no Senado e conter a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF). “Coloco meu nome à disposição do presidente Bolsonaro e da base conservadora para defender a liberdade”, declarou a parlamentar.
Reunião autorizada
Outro movimento considerado decisivo foi o pedido encaminhado por Jair Bolsonaro ao ministro Alexandre de Moraes na terça-feira (11) para uma reunião “com a maior brevidade possível” com Tarcísio, em sua residência, onde cumpre prisão domiciliar. Moraes autorizou a visita para 10 de dezembro.
Nos bastidores, lideranças do PL avaliam que a conversa servirá para selar o apoio do partido ao governador paulista, evitando dispersão de forças no campo conservador diante da proximidade do início da pena de 27 anos e três meses imposta a Bolsonaro em regime fechado.
Aval do mercado e do Congresso
Relatórios de corretoras apontam retomada de otimismo de investidores com a possibilidade de candidatura de Tarcísio. No Congresso, pesquisa do Ranking dos Políticos divulgada na terça-feira (11) ouviu deputados e senadores e indicou o governador como o nome mais competitivo da direita em 2026, graças à imagem de gestor eficiente e à baixa rejeição.
Tarcísio também reforçou protagonismo ao emplacar o secretário paulista de Segurança Pública, deputado Guilherme Derrite (PP-SP), como relator do projeto Antifacção na Câmara, tema que domina o debate nacional desde a megaoperação contra o Comando Vermelho em 28 de outubro.
Alianças partidárias
No Republicanos, o presidente Marcos Pereira declarou que, caso Tarcísio queira concorrer ao Planalto, “terá nosso apoio”. No MDB, dirigentes paulistas abriram espaço para que o prefeito Ricardo Nunes dispute o governo de São Paulo em 2026, sinalizando eventual retirada de Tarcísio da corrida pela reeleição.
O PSD, de Gilberto Kassab, mantém na vitrine os governadores Ratinho Júnior (PR) e Eduardo Leite (RS), mas caciques da legenda admitem preferência pelo paulista. Já o governador goiano Ronaldo Caiado (União Brasil) avisou que poderá trocar de partido, possivelmente para o Podemos, se sua sigla não bancar sua pretensão presidencial.
Resistências e incertezas
Dentro da família, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) tenta se manter como opção, embora também corra risco de inelegibilidade em processo que corre no STF. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) é citado como alternativa de reserva.
Analistas políticos, contudo, avaliam que o anúncio formal da chapa Tarcísio-Michelle ainda é prematuro. Elton Gomes, professor de Ciência Política da UFPI, lembra que disputas internas, ações judiciais e a própria situação de Jair Bolsonaro podem alterar o quadro. Segundo ele, a escolha da vice exigirá “alguém que agregue voto, capilaridade e recursos”.
Pesquisas recentes dos institutos Genial/Quaest, Paraná Pesquisas e Futura Inteligência apontam estagnação ou queda na aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na virada para novembro, cenário que estimula a direita a buscar unificação. A escalada do debate sobre segurança pública, combinada a críticas ao custo da COP30 e ao escândalo de fraudes no INSS, também pressiona o governo federal e reforça a movimentação em torno de Tarcísio.
Nos bastidores do PL, a expectativa é que o ex-presidente defina o nome que apoiará ao Planalto até o início de dezembro, após a reunião autorizada com o governador paulista.
Com informações de Gazeta do Povo