O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fará na terça-feira, 23 de setembro de 2025, o tradicional discurso de abertura da 80ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, em Nova York (EUA). Segundo o Ministério das Relações Exteriores, Lula repetirá a defesa de um Estado palestino e deve citar tarifas e punições impostas pelos Estados Unidos para argumentar que o Brasil é alvo de represálias políticas.
Palestina ganha reforço diplomático
A fala de Lula acontece dois dias depois de Reino Unido, Austrália, Portugal e Canadá reconhecerem oficialmente a Palestina como Estado. Outros governos avaliam adotar postura semelhante ainda nesta semana, numa tentativa de pressionar Israel por um cessar-fogo na Faixa de Gaza. O Brasil já havia reconhecido a Palestina em 2010, no segundo mandato de Lula, e o presidente pretende aproveitar a nova onda de reconhecimentos para destacar a posição brasileira.
Tarifas e Lei Magnitsky no alvo
Auxiliares do Planalto indicam que o chefe do Executivo apresentará o Brasil como vítima das tarifas comerciais de 50% decretadas em julho pelo presidente norte-americano Donald Trump, após reunião do Brics no Rio de Janeiro. Outro ponto a ser mencionado é a extensão, anunciada em 22 de setembro, da Lei Magnitsky Global contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, a esposa dele, Viviane Barci de Moraes, e o Instituto Lex.
A sanção impede acesso ao sistema financeiro ocidental e proíbe transações com empresas que operem nos Estados Unidos. Especialistas ouvidos pelo Itamaraty avaliam que medidas semelhantes podem atingir outros ministros do STF e integrantes do governo.
Fragilidade diplomática
Análises obtidas pela reportagem apontam que a ênfase de Lula em regimes como Irã e Rússia prejudicou a imagem de neutralidade que historicamente sustentava a diplomacia brasileira. Essa mudança teria diminuído a capacidade do país de atuar como mediador em conflitos internacionais.
No plenário da ONU, o discurso brasileiro será sucedido pelo de Donald Trump, único membro permanente do Conselho de Segurança que apoia Israel e não reconhece o Estado palestino. Observadores em Washington especulam qual será a reação do líder norte-americano caso seja citado diretamente por Lula.
Comitiva limitada por vistos
Parte da delegação brasileira chega a Nova York com restrições. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, obteve visto apenas no dia 18, mas desistiu da viagem ao saber que teria circulação limitada a cinco quarteirões do hotel. Outros integrantes do governo também tiveram vistos revogados pela ligação com o programa Mais Médicos, classificado por Washington como exploração de mão de obra cubana.
Eventos paralelos
Na segunda-feira, 22 de setembro, Lula participou da Conferência Internacional de Alto Nível para a Resolução Pacífica da Questão Palestina, organizada por França e Arábia Saudita. No encontro, ele condenou atos terroristas do Hamas e criticou a “matança indiscriminada” de civis palestinos. O diretor do Departamento de Organismos Internacionais do Itamaraty, Marcelo Marotta Viegas, afirmou que o Brasil vê a conferência como oportunidade para ampliar o número de países que reconhecem a Palestina.
COP 30 em risco
Além da pauta palestina, Lula pretende promover a COP 30, marcada para 2026 em Belém (PA). No entanto, denúncias de superfaturamento em hospedagens e atrasos na organização ameaçam o peso do evento. Caso haja esvaziamento, o governo teme perda de protagonismo também na agenda ambiental.
O discurso de Lula, portanto, deverá combinar defesa da causa palestina, críticas a sanções dos Estados Unidos e tentativa de reforçar a imagem do Brasil como líder climático, mesmo diante de questionamentos internos e externos.
Com informações de Gazeta do Povo