Brasília, 25 de dezembro de 2025. Ao longo de 2025, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acelerou a pré-campanha pela reeleição ancorado em temas sociais e embates ideológicos, estratégia que, segundo políticos e analistas, pode afastar o eleitorado moderado decisivo em 2026.
Roteiro de 2022 reforçado
Lula manteve a narrativa de “reconstrução” do país após o governo Jair Bolsonaro (PL) – agora preso e inelegível – e intensificou críticas a empresários, ao mercado financeiro e aos “super-ricos” que, afirma, pagam poucos impostos. O tom foi acompanhado de slogans publicitários como “Do lado do povo brasileiro” e da defesa de ampliações de benefícios sociais.
Segurança pública expõe tensão
O diretor-geral do Ranking dos Políticos, Juan Carlos Arruda, aponta que a megaoperação policial no Rio de Janeiro, em outubro, escancarou o contraste entre o discurso governista e a demanda popular por combate duro ao crime. Dias depois da ação, Lula chamou a operação de “matança” e pediu investigação pela Polícia Federal, posição oposta à maioria dos eleitores, observa Arruda.
Boulos no Planalto
Em 31 de outubro, o deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP) assumiu a Secretaria-Geral da Presidência. O líder do MTST foi incumbido de aproximar o governo de movimentos sociais e declarou que levará o Planalto “às ruas”, sinalizando campanha antecipada e mais à esquerda.
Pautas sociais e fiscais
O Executivo manteve o Bolsa Família em patamar elevado, estuda tarifa zero no transporte público – estimada em R$ 90 bilhões anuais – e sancionou programas como Luz do Povo, que zerará a conta de luz para famílias de baixa renda, e Gás do Povo, com botijão gratuito para 15 milhões de lares. Em 26 de novembro, Lula promulgou isenção total de Imposto de Renda para salários até R$ 5 mil e taxação mínima de 10% sobre rendas anuais acima de R$ 600 mil.
Redução da jornada e outras bandeiras
O governo endossou a PEC que corta a jornada semanal de 44 para 36 horas, proposta pela deputada Érika Hilton (PSOL-SP), apesar de críticas do setor produtivo. De acordo com o cientista político Ricardo Caldas, a medida reforça a “essência esquerdista” do terceiro mandato e substitui o “Lulinha Paz e Amor” de 2002.
Diálogo com evangélicos
Para diminuir a rejeição no segmento em que Bolsonaro dominou, Lula promoveu encontros com líderes como o bispo Samuel Ferreira e o deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP). Ainda assim, temas de costumes mantêm resistência ao petista. Em novembro, o presidente sancionou a Política Nacional de Linguagem Simples, que proíbe linguagem neutra em documentos oficiais, tentativa de neutralizar críticas conservadoras.
Contradição ambiental
Às vésperas da COP 30, em Belém, o governo autorizou a Petrobras a perfurar na Foz do Amazonas com aval do Ibama, gerando reação de ambientalistas que viram incoerência entre o discurso climático de Lula e a abertura de nova fronteira petrolífera.
Alinhamento internacional
Nos fóruns externos, o presidente atacou sanções de nações desenvolvidas, criticou operações militares em Gaza, defendeu o Estado palestino e se aproximou de países como Cuba e Venezuela, postura que reforça, segundo a oposição, o viés anti-Ocidente da diplomacia petista.
Analistas avaliam que, sem Bolsonaro na disputa, Lula precisará apresentar resultados concretos e moderar o tom para reconquistar o eleitor de centro. Caso contrário, a forte guinada à esquerda pode limitar o potencial de votos fora da base fiel do PT.
Com informações de Gazeta do Povo