Brasília – O economista e empresário Fernando dos Santos Andrade Cavalcanti, investigado pela Operação Sem Desconto da Polícia Federal, declarou à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, nesta segunda-feira (6), ter doado R$ 100 mil ao Partido dos Trabalhadores (PT) durante a campanha eleitoral de 2022. No mesmo pleito, segundo ele, valor idêntico foi destinado ao Partido Progressista (PP).
Em depoimento no Senado, Cavalcanti disse que as contribuições foram realizadas “dentro da legalidade” e justificou as transferências afirmando ser “democrata” e interessado em apoiar “bons projetos” de diferentes orientações políticas. O empresário alegou que a polarização partidária o motivou a destinar recursos tanto à direita quanto à esquerda.
Outras contribuições
Além das doações aos diretórios nacionais de PT e PP, o empresário relatou ter repassado quantias que variam de R$ 50 mil a R$ 200 mil a candidatos a prefeito e vereador de diversas siglas nas eleições de 2024. Ele também informou ter cedido sua residência no Lago Sul, em Brasília, para um evento do PSD e presenteado o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), com um fusca em comemoração ao aniversário do chefe do Executivo local.
Suspeitas sobre patrimônio
Cavalcanti é apontado pela Polícia Federal como possível operador financeiro de um dos principais beneficiários do esquema de descontos irregulares em benefícios do INSS. O relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), questionou o empresário sobre o crescimento de seu patrimônio a partir de 2018, ano em que uma das empresas investigadas foi criada.
De acordo com documentos apresentados à comissão, o investigado possui renda declarada de R$ 51 mil em um grupo empresarial e R$ 5 mil em uma Assembleia Legislativa, além de participação em lucros de um escritório de advocacia do qual é ex-sócio. Ele é único proprietário de uma empresa de investimentos com capital social de R$ 1 milhão, responsável pela emissão de notas fiscais a clientes do escritório e que, segundo ele, fatura entre R$ 3 milhões e R$ 7 milhões por mês.
O patrimônio inclui entre 21 e 23 veículos, entre eles uma Ferrari avaliada em R$ 4 milhões, três Mercedes-Benz, dez motocicletas e dois Cadillacs. Na Operação Sem Desconto, a PF apreendeu oito relógios de luxo, um deles estimado em R$ 1,3 milhão, e cerca de cem garrafas de vinho avaliadas em R$ 7 milhões.
Negativas de irregularidades
O empresário negou envolvimento em fraudes no INSS e classificou como “compatível” a origem de seus bens com as atividades profissionais. Ele admitiu ter mandado retirar carros de casa um dia antes da operação policial, alegando preocupação com a exposição dos veículos, mas negou tentativa de ocultação.
Sobre sua relação com outros investigados, Cavalcanti declarou que se limitava a encontros sociais. Documentos judiciais apontam movimentação de R$ 200 mil entre contas do empresário e de um suspeito considerado operador central no esquema. Durante a oitiva, ele reafirmou não ter sido “laranja, operador ou beneficiário” das fraudes.
Atualmente afastado das funções, Cavalcanti diz estar se desvinculando de sociedades por exigências de compliance. Ele ressaltou que a Ferrari está financiada até 2027 e que todos os bens foram adquiridos de forma lícita.
Com informações de Gazeta do Povo