Uma sequência de embates envolvendo Supremo Tribunal Federal (STF), Congresso Nacional e Palácio do Planalto nas últimas semanas reforçou o clima de crise institucional e acenou para um 2026 marcado por conflito político permanente.
Liminar de Gilmar Mendes sobre impeachment
O ponto mais sensível do atrito ocorreu em 3 de dezembro, quando o ministro Gilmar Mendes editou liminar e alterou, de forma individual, as regras de apresentação de pedidos de impeachment contra magistrados da Corte. A medida limitou a legitimidade das denúncias à Procuradoria-Geral da República (PGR), retirando prerrogativas do Senado e de cidadãos.
A reação parlamentar foi imediata: congressistas de diferentes partidos acusaram o ministro de usurpar competências do Legislativo. Diante da pressão, Gilmar recuou parcialmente, retirando do texto o trecho que concedia exclusividade à PGR.
Bloqueio à indicação de Jorge Messias
Em paralelo, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), travou nos bastidores a indicação de Jorge Messias, atual advogado-geral da União, para a vaga aberta no STF. Embora escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o nome não chegou a ser oficializado diante do risco de derrota em plenário após a sabatina, esfriando a relação entre Planalto e Senado.
Alcolumbre tenta agora negociar com a Corte uma nova Lei de Impeachment, enquanto parlamentares de oposição veem na manobra de Gilmar uma tentativa de autoproteção caso o Senado eleito em 2026 tenha perfil mais conservador.
Conflito entre Moraes e Câmara termina em renúncia de Zambelli
No dia 11 de dezembro, o ministro Alexandre de Moraes determinou a perda imediata do mandato da então deputada Carla Zambelli (PL-SP) após condenação criminal, anulando a votação da Câmara que havia rejeitado a cassação. Em 12 de dezembro, a Primeira Turma do STF confirmou a decisão por unanimidade. Zambelli renunciou ao cargo em 14 de dezembro antes da execução da ordem.
Escândalo do Banco Master pressiona magistrados
Investigações da Polícia Federal apontam que o Banco Master operava esquema de manipulação de decisões judiciais, tráfico de influência e uso de jatinhos particulares, gerando prejuízo estimado em R$ 12,2 bilhões. Ao menos dois ministros do STF surgem citados em diálogos apreendidos.
O relator de parte das apurações, ministro Dias Toffoli, viajou a Lima em avião privado de empresário investigado e, dias depois, impôs sigilo total ao inquérito, além de concentrar procedimentos em seu gabinete, fato classificado como “grave” pelo presidente da CPI do INSS, senador Carlos Viana (Podemos-MG).
Na CPI do Crime Organizado, o relator Alessandro Vieira (MDB-SE) chegou a declarar que a prisão de um ministro de tribunal superior “estaria próxima”.
Perspectiva para 2026
Para analistas políticos ouvidos pelo jornal, a soma de decisões judiciais controversas, resistência do Senado a indicações presidenciais e investigações criminais envolvendo autoridades mostra que a crise entre os Poderes deve atravessar 2026 sem sinais de arrefecimento.
Com informações de Gazeta do Povo