Brasília — A instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, que apura um esquema de fraude de R$ 6,3 bilhões em descontos irregulares nos benefícios de aposentados e pensionistas entre 2019 e 2024, colocou o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sob pressão a 20 meses das eleições de 2026.
Oposição assume comando
Em articulação de bastidores, a oposição elegeu o senador Carlos Viana (Podemos-MG) para a presidência e o deputado Alfredo Gaspar (União-AL) para a relatoria da CPMI, revertendo indicações dos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). A nova composição garante à minoria espaço de destaque em reuniões marcadas para segundas e quintas-feiras.
Fraude bilionária e alcance político
De acordo com a Polícia Federal, cerca de 60% do montante desviado foi movimentado por entidades sindicais e associações no atual governo. Entre os investigados figura o sindicato liderado por José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do presidente.
Potencial eleitoral
Analistas veem na CPMI um risco semelhante ao enfrentado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro durante a CPI da Covid-19 em 2021. O cientista político Paulo Kramer lembra que comissões anteriores, como as dos Correios e do PC Farias, produziram impactos concretos. Para Elton Gomes, professor da UFPI, a robustez das provas no caso INSS supera as suspeitas investigadas na CPI da pandemia.
Alexandre Bandeira observa que o prazo de até 180 dias — 120 iniciais, prorrogáveis por 60 — deve fazer com que o relatório final seja divulgado já em 2026, às vésperas do pleito presidencial, potencializando o desgaste do Planalto.
Idosos e tema da corrupção em jogo
Juan Carlos Arruda, do Ranking dos Políticos, destaca que aposentados e pensionistas constituem base relevante para Lula. Pesquisa Genial/Quaest de 21 de agosto mostrou aprovação de 46% do presidente, impulsionada justamente pelos idosos, pelo eleitorado do Nordeste e por beneficiários do Bolsa Família.
Alvos e linhas de investigação
A primeira reunião da comissão, marcada para esta terça-feira (26), deve votar requerimentos para convocar:
Imagem: Rodolfo Stuckert
- o ex-ministro da Previdência Carlos Lupi;
- o atual ministro Wolney Queiroz;
- o presidente do INSS, Gilberto Waller;
- ex-titulares do órgão, como André Paulo Felix Fidelis;
- o advogado-geral da União Jorge Messias;
- o ministro da CGU, Vinícius Marques de Carvalho;
- o diretor-geral da Polícia Federal Andrei Rodrigues;
- o ministro da Justiça Ricardo Lewandowski.
Também estão previstos pedidos de quebra de sigilos bancário e fiscal de associações de aposentados, além do envio de Relatórios de Inteligência Financeira pelo Coaf.
‘Seguir o dinheiro’, dizem parlamentares
Autor de mais da metade dos requerimentos, o senador Izalci Lucas (PL-DF) promete investigar todos os sindicatos citados pela PF e pela Controladoria-Geral da União. “Cada quebra de sigilo tem justificativa baseada em indícios concretos”, afirmou.
O presidente da CPMI, senador Carlos Viana, defendeu celeridade. “O Brasil precisa conhecer a verdade e punir os culpados”, declarou.
Com reuniões semanais e possibilidade de prorrogação, a CPMI do INSS deve manter o tema em evidência durante todo o próximo ano legislativo, alimentando a disputa política que antecede a eleição presidencial.
Com informações de Gazeta do Povo