Brasília – A decisão de União Brasil e Progressistas (PP) de se afastarem do governo federal, somada à entrada do governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos) nas negociações pela anistia de investigados dos atos de 8 de janeiro, acendeu novo alerta no Palácio do Planalto. Integrantes da articulação política temem que o movimento fortaleça a oposição e comprometa votações consideradas centrais para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como a isenção do Imposto de Renda (IR) para salários de até R$ 5 mil.
Primeiros sinais de resistência
A dificuldade apareceu na semana passada, quando senadores de União Brasil e PP votaram contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que altera o pagamento de precatórios. A matéria, que abre espaço de R$ 12,4 bilhões no Orçamento de 2026, passou com a margem mínima. O resultado reforçou a impressão de que, fora da base, as siglas ganham poder de veto às pautas do Executivo.
No mesmo período, as direções nacionais de PP e União Brasil orientaram filiados a deixar cargos federais até o fim de setembro. Paralelamente, as legendas buscam consolidar neste ano o nome de Tarcísio de Freitas como candidato da direita ao Planalto em 2026.
Expectativa de apoio bolsonarista
O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), e o presidente do União Brasil, Antônio Rueda, aguardam aval do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para chancelar Tarcísio. O cenário ganhou força após a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) confirmar, em 11 de setembro, condenação de Bolsonaro. Publicamente, porém, o governador afirma que pretende disputar a reeleição em São Paulo.
“Se Tarcísio exibir musculatura nacional e baixo custo de coalizão, torna-se favorito; caso contrário, a direita pode reabrir a disputa”, avaliou o cientista político Lucas Fernandes, da BMJ Consultores.
Isenção do IR em risco
A ampliação da faixa de isenção do IR é apontada pelo governo como trunfo para recuperar popularidade de Lula antes da corrida de 2026. Tentativas de votar o projeto nas últimas duas semanas esbarraram no julgamento de Bolsonaro e na obstrução da oposição, que pressiona pela anistia.
Mesmo assim, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), sinalizou em 8 de setembro que colocará o texto em pauta. Caso a proposta não avance, o Planalto cogita editar medida provisória. “Para valer em 2026, precisamos aprovar neste ano nas duas Casas”, lembrou o líder do governo, deputado José Guimarães (PT-CE).
Fernandes sustenta que há margens para votações pontuais: “União e PP podem apoiar temas populares, mas a negociação ficará mais cara e instável. O governo terá de reforçar pontes com PSD, MDB, PSB e PDT”.
Anistia domina a agenda
O projeto de anistia ganhou fôlego com a atuação direta de Tarcísio, que esteve em Brasília na semana passada e reuniu-se com Hugo Motta. Segundo a oposição, PL, Novo, PP, União Brasil, Republicanos e parte de PSD e MDB somariam mais de 300 votos, acima do mínimo necessário.
Na reunião de líderes de 9 de setembro, Motta disse não haver relator nem data definida, mas admitiu que o assunto “terá de ser enfrentado”. O governo mobilizou ministros de PSD, MDB, União Brasil, PSB e PCdoB para conter o avanço da proposta e priorizar pautas econômicas, como a MP do Gás do Povo e a PEC da Segurança.
Imagem: Wesley Oliveira Guilherme Grandi
Embate antecipado entre Lula e Tarcísio
Assessores do Planalto aconselharam Lula a expor Tarcísio como potencial rival já em 2025. O presidente intensificou críticas, chegando a afirmar, em entrevista à Rádio Itatiaia, que o governador “vai fazer o que Bolsonaro quiser”.
Tarcísio respondeu que não perde “um minuto com questões alheias ao mandato”. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, chamou o governador de “candidato fantoche”, enquanto o titular da Casa Civil, Rui Costa, classificou sua defesa da anistia como “lamentável”.
Internamente, porém, o marqueteiro Sidônio Palmeira recomenda reduzir ataques para evitar projeção nacional precoce de Tarcísio. Caso concorra ao Planalto, o governador precisará renunciar ao cargo até abril de 2026.
Críticas à política fiscal
Em evento bancário realizado em agosto, Tarcísio afirmou que “o Brasil não aguenta mais aumento de gasto, de impostos nem corrupção” e acusou o governo de “jogar dinheiro fora”. Ele defende reforma orçamentária, desvinculação de receitas e revisão de benefícios tributários.
Governadores aliados, como Ronaldo Caiado (Goiás), Ratinho Jr. (Paraná) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul), aplaudiram o discurso, no qual o paulista disse que o país “discute a mesma pessoa há 40 anos”.
Enquanto a disputa se intensifica, o Planalto trabalha para garantir votos às suas pautas ainda em 2025 e evitar que a coalizão de centro-direita transforme a anistia em revés político para Lula.
Com informações de Gazeta do Povo