Pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) comprovaram que duas cultivares nacionais de banana — BRS Princesa e BRS Platina — são resistentes à raça 4 tropical (R4T) do fungo Fusarium oxysporum, agente causador da murcha de Fusarium, doença que tem dizimado lavouras em diversos continentes.
A validação da resistência foi concluída em 2025 após uma série de ensaios iniciados em janeiro de 2022 na Colômbia, primeiro país sul-americano a registrar oficialmente a R4T, em 2019. Nos experimentos, menos de 1% das plantas das duas variedades brasileiras apresentou sintomas, percentual considerado suficiente para classificá-las como resistentes.
Testes em área contaminada
As mudas de BRS Princesa e BRS Platina foram remetidas à Colômbia sob parceria entre a Embrapa e a Corporação Colombiana de Pesquisa Agropecuária (AgroSavia). Inicialmente, permaneceram oito meses em quarentena em uma estação do Instituto Agropecuário Colombiano (ICA) para garantir ausência de pragas e patógenos. Em seguida, foram expostas ao fungo em casa de vegetação, tanques com solo contaminado e, por fim, em campo aberto na fazenda onde a doença foi detectada pela primeira vez no país.
A murcha de Fusarium R4T já está presente em cultivos da Ásia, África, Oceania e de ao menos três vizinhos do Brasil — Colômbia, Peru (2020) e Venezuela (2023). A praga é disseminada pelo solo aderido a calçados, ferramentas, mudas aparentemente sadias e plantas ornamentais hospedeiras. Ao infectar a bananeira, bloqueia o fluxo de água e nutrientes, levando a planta à morte.
Barreira natural contra a doença
De acordo com o fitopatologista Fernando Haddad, da Embrapa Mandioca e Fruticultura, as duas cultivares foram geradas ao longo de décadas de melhoramento genético iniciado pelos pesquisadores Sebastião Silva e Zilton Cordeiro, com objetivo original de tolerar a raça 1 do fungo. A nova confirmação de resistência à R4T transforma BRS Princesa e BRS Platina em potenciais barreiras biológicas para frear o avanço do patógeno.
Enquanto a BRS Princesa pertence ao grupo de banana maçã, a BRS Platina integra o tipo prata, o mais consumido no Brasil. A Princesa já domina o mercado de banana maçã: na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), mais de 90% da oferta dessa variedade é da cultivar resistente, segundo Haddad. A Platina começa a expandir-se gradualmente nos pomares comerciais.
Impacto global e novos cruzamentos
Hoje, a maior parte da produção mundial depende da variedade Cavendish, altamente suscetível à R4T. Para ampliar a proteção, diploides ancestrais usados na criação da Princesa e da Platina servirão de base para um programa de melhoramento da Cavendish na Colômbia. Em parceria com a Corporação Bananera Nacional (Corbana), da Costa Rica, a Embrapa também desenvolve híbridos Cavendish portadores de genes de resistência.
A expectativa é lançar uma nova cultivar do tipo prata resistente ao fungo em 2026, complementando o portfólio de armas biológicas contra a doença que ameaça lavouras e movimenta bilhões de dólares por ano no mercado global de bananas.
Com informações de Gazeta do Povo