Brasília – 25/11/2025. A indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para ocupar a vaga deixada por Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal (STF) abriu uma crise imediata entre o Palácio do Planalto e o Senado. Contrariado com a escolha feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), passou a pautar matérias consideradas hostis ao governo.
Pautas de impacto fiscal e político
Poucas horas depois do anúncio de Lula, Alcolumbre confirmou para esta terça-feira (25) a votação do projeto que concede aposentadoria especial, com integralidade e paridade, a agentes comunitários de saúde e de combate às endemias. A proposta, do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), tem impacto estimado pelo Ministério da Fazenda em mais de R$ 20 bilhões em dez anos.
O Senado também retomará a discussão da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que elimina a reeleição para prefeitos, governadores e presidente a partir de 2028. O relator, senador Marcelo Castro (MDB-PI), afirmou que “está mais do que na hora de colocar fim a este mal”, embora o presidente Lula já tenha se manifestado contra a mudança.
Risco de derrota na sabatina
Antes mesmo da reação de Alcolumbre, Jorge Messias não dispunha dos 41 votos necessários para ser aprovado. Com o presidente do Senado atuando abertamente contra o governo, aliados avaliam que o cenário ficou ainda mais delicado. Há articulações para que todo o trâmite — sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e votação em plenário — ocorra no mesmo dia, diminuindo o tempo de mobilização do Planalto.
A tensão é agravada pela prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no sábado (22), fato que deve dominar as perguntas na sabatina de Messias. Governistas temem que o episódio endureça ainda mais o ambiente.
Troca de mensagens e distanciamento
Em nota divulgada nesta segunda-feira (24), Messias enalteceu “o relevante papel” de Alcolumbre no Congresso e lembrou ter trabalhado na Casa sob sua tutela. O senador respondeu que analisará a indicação “no momento oportuno”, sem citar o nome do indicado.
O rito começa com a leitura do ofício na Mesa Diretora, presidida por Alcolumbre, que remete o nome à CCJ, comandada por Otto Alencar (PSD-BA). A data da sabatina dependerá de negociações políticas agora tensas.
Bastidores da ruptura
Alcolumbre defendia a escolha do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para a vaga no STF e se queixou de ter sido excluído das tratativas, rompendo com o líder do governo, Jaques Wagner (PT-BA). Pacheco, por sua vez, sinalizou desconforto, embora tenha sido avisado previamente da decisão de Lula.
Parlamentares próximos a Pacheco dizem que o Planalto contava com ele como palanque em Minas Gerais em 2026, segundo maior colégio eleitoral do país. A tensão pode comprometer essa estratégia.
Ofensiva da oposição
Na Câmara, o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), criticou a “longevidade” de Messias — que, aos 45 anos, poderia permanecer três décadas na Corte. No Senado, Rogério Marinho (PL-RN) acionou PGR, TCU e Comissão de Ética da Presidência para investigar suposta omissão do indicado em fraudes contra aposentados do INSS.
A AGU respondeu que atua com base em indícios encaminhados pela Controladoria-Geral da União (CGU) e pela Polícia Federal, e que já obteve bloqueios judiciais que somam R$ 2,8 bilhões.
Senado mais assertivo
Analistas políticos observam que, após a aprovação apertada de Paulo Gonet para a Procuradoria-Geral da República, o Senado se mostra disposto a exercer protagonismo e impor filtros mais rigorosos às indicações para o sistema de Justiça. A avaliação é de que Lula terá de entrar pessoalmente em campo se quiser garantir a nomeação de Jorge Messias.
As próximas semanas serão decisivas para o governo, que busca conter a rebelião no Senado enquanto tenta assegurar votos suficientes para emplacar seu escolhido no Supremo.
Com informações de Gazeta do Povo