Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do ministro Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), afirmou nesta terça-feira (2) à Comissão de Segurança Pública do Senado que Moraes e o procurador-geral da República, Paulo Gonet, teriam combinado alvos e fabricado documentos durante as investigações ligadas às eleições de 2022 e aos atos de 8 de janeiro. O depoimento, prestado por videoconferência a partir da Itália, intensificou a pressão de parlamentares da oposição para suspender o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo Tagliaferro, ordens informais chegavam por WhatsApp e e-mail pessoal, e relatórios eram adaptados para justificar prisões, buscas e bloqueios contra influenciadores, parlamentares e empresários alinhados a Bolsonaro. O ex-assessor exibiu mensagens e arquivos que, de acordo com ele, comprovariam a participação de Gonet na elaboração de “pacotinhos” de investigados, enviados a tribunais regionais eleitorais com datas retroativas.
A revelação de um suposto “jogo combinado” provocou reações imediatas. A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) disse que Moraes “tinha que ser preso hoje” e exigiu a paralisação do processo por “vício insanável”. O senador Marcos Rogério (PL-RO) classificou a denúncia como prova de um esquema e pediu investigação sobre a situação jurídica de Tagliaferro, que é alvo de pedido de extradição apresentado por Moraes.
No âmbito da Câmara, o líder da oposição, Luciano Zucco (PL-RS), informou que usará o depoimento para reforçar o pedido de suspensão do julgamento de Bolsonaro e para acelerar a votação do projeto de anistia aos réus do 8 de janeiro. Deputados Caroline de Toni (PL-SC) e Marcel van Hattem (Novo-RS) consideraram as acusações “gravíssimas” e defenderam providências imediatas.
Flávio Bolsonaro (PL-RJ), presidente da comissão, acionou a advocacia do Senado e anunciou o envio de relatório ao presidente do STF, Luís Roberto Barroso, além de instituições internacionais. A comissão deve divulgar as primeiras medidas nesta quinta-feira (5).
Enquanto Tagliaferro falava, seu canal no YouTube foi retirado do ar, fato apontado por parlamentares como nova evidência de censura. O ex-assessor relatou ainda o uso de reportagens jornalísticas como base para operações policiais, citando buscas autorizadas contra empresários simpáticos a Bolsonaro após publicação do portal Metrópoles.
Em nota, o gabinete de Alexandre de Moraes afirmou que todos os atos das investigações sobre milícias digitais e desinformação “foram oficiais, regulares e documentados nos autos”, seguindo o poder de polícia do TSE. Até a noite de terça, Paulo Gonet não havia se manifestado.

Imagem: Gustavo Moreno
Especialistas também cobraram apuração. O advogado constitucionalista André Marsiglia declarou nas redes sociais que, se confirmadas, as acusações configuram crimes graves e poderiam levar ao afastamento de Moraes e à suspensão de processos sob sua relatoria.
Durante a sessão, os senadores decidiram liberar às defesas dos réus do 8 de janeiro todos os documentos entregues por Tagliaferro. Aliados de Bolsonaro articulam ainda proteção internacional para o ex-assessor, e uma comitiva ingressou em tratativas com autoridades italianas.
O depoimento ocorreu no mesmo dia em que o STF manteve o julgamento de Jair Bolsonaro. No plenário, Moraes e Gonet apresentaram manifestações alinhadas pela condenação do ex-presidente, reforçando críticas da oposição de que há conluio entre os dois.
Com informações de Gazeta do Povo