Brasília, 3 de junho de 2024 – Um documento do Centro Europeu de Direito e Justiça (ECLJ) detalha a escalada de ataques físicos, ameaças e restrições legais impostas a comunidades cristãs em todo o território turco. O relatório, divulgado durante a visita do Papa Leão IV ao país entre 27 e 30 de novembro para celebrar os 1.700 anos do Primeiro Concílio de Niceia, sustenta que o “ódio normalizado” contra cristãos segue sem resposta eficaz das autoridades.
Violência crescente
Com 52 páginas, o estudo intitulado A Perseguição aos Cristãos na Turquia reúne episódios recentes, como o ataque na véspera de Ano-Novo de 2023 à Igreja Protestante Kurtuluş, no distrito de Çekmeköy, em Istambul. Na ocasião, um agressor armado disparou contra o templo e gritou: “Não permitiremos que vocês façam lavagem cerebral em nossos jovens muçulmanos! Vocês, infiéis, serão derrotados e lançados no inferno!”.
Outro caso ocorreu em 28 de janeiro de 2024, quando dois homens mascarados ligados ao Estado Islâmico abriram fogo durante a missa dominical na Igreja Católica Romana de Santa Maria, também em Istambul, matando o visitante turco Tuncer Cihan, de 52 anos, portador de deficiência intelectual.
Segundo o ECLJ, pichações hostis, agressões a pastores e ataques a cemitérios cristãos tornam o ambiente religioso cada vez mais inseguro. Poucos desses episódios são registrados oficialmente como crimes de ódio.
Discurso de ódio e pressão legal
O relatório ressalta que o sistema educacional associa o islã à identidade nacional turca, ao passo que cristãos, especialmente convertidos do islamismo, enfrentam violência inclusive dentro das próprias famílias.
A negação oficial do genocídio armênio de 1915, reconhecido por Parlamento Europeu, França e Estados Unidos, também é apontada como fator que alimenta a marginalização das antigas comunidades cristãs do país.
Queda drástica na população cristã
Dados compilados pelo ECLJ mostram que a presença cristã despencou de 20% da população no início do século XX para apenas 0,3% atualmente, o equivalente a cerca de 257 mil pessoas. O estudo atribui o declínio a violência, deslocamento forçado, confisco de propriedades, restrições legais e expulsão de clérigos e missionários.
Denúncias na OSCE
Em 16 de outubro, durante a Conferência da Dimensão Humana em Varsóvia, organizada pela Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), o responsável de advocacia do ECLJ, Thibault van den Bossche, relatou que narrativas políticas e midiáticas na Turquia descrevem cristãos como “estrangeiros” e “ameaça à segurança nacional”.
Van den Bossche afirmou que 132 cristãos estrangeiros foram proibidos de entrar no país entre 2019 e 2024, afetando 303 pessoas, incluindo familiares. Ele reforçou que protestantes e convertidos do islamismo são os grupos mais vigiados.
Ranking de perseguição
Na Lista Mundial da Perseguição 2025, elaborada pela Portas Abertas, a Turquia ocupa a 45ª posição entre os países onde é mais difícil professar a fé cristã.
Recomendações
O ECLJ pede que Ancara reconheça a personalidade jurídica das comunidades cristãs, proteja seus bens, realize eleições regulares para direções de fundações religiosas e cumpra decisões do Tribunal Europeu de Direitos Humanos. Um caso citado envolve a recusa das autoridades de Üsküdar, em Istambul, em registrar o terreno da Fundação do Hospital Armênio de São Salvador.
Com informações de Folha Gospel