Em 31 de outubro, data em que cristãos recordam a Reforma Protestante, ganha relevo a trajetória de John Huss, pregador tcheco executado em 1415 que, segundo relatos históricos, previu o movimento iniciado por Martinho Lutero um século depois.
Profecia em meio às chamas
Durante o martírio na fogueira, em Constança, Alemanha, Huss teria dito: “Hoje vocês queimam um ganso, mas daqui a cem anos surgirá um cisne que não poderão assar”. O termo “ganso” faz referência ao seu sobrenome — “Huss” significa ganso em tcheco. Escritos de Orlando Boyer e de John Foxe registram o episódio, e o próprio Lutero, nos anos 1530, afirmou crer que a declaração apontava para sua missão reformadora.
Acusado de heresia
Nascido por volta de 1370 em Husinec, na Boêmia (atual República Tcheca), o filho de camponeses pobres estudou na Universidade de Praga e ingressou no sacerdócio em 1401. Como pregador da Capela de Belém, passou a expor, em língua tcheca, críticas à corrupção clerical e à venda de indulgências. Inspirado pelas ideias do inglês John Wycliffe, defendeu a leitura da Bíblia pelo povo e traduziu partes da liturgia para o idioma local.
As denúncias desagradaram ao papado. Excomungado e proibido de pregar, Huss recusou-se a deixar o púlpito. Quando a pressão aumentou, retirou-se para o sul da Boêmia (1412), onde escreveu obras que aprofundaram suas teses reformistas.
Julgamento e execução
Convocado para o Concílio de Constança, recebeu promessa de salvo-conduto do imperador Sigismundo. Mesmo desconfiado, viajou à Alemanha em 1414 disposto a defender suas convicções. No concílio, foi declarado herege e condenado à morte.
Em 6 de julho de 1415, despido de suas vestes clericais e com um chapéu de burro adornado por desenhos de demônios, John Huss foi amarrado a uma estaca. As chamas ganharam força alimentadas por manuscritos bíblicos de Wycliffe. Testemunhas afirmam que o pregador cantou um hino até entregar a vida, orando: “Senhor Jesus, é por ti que suporto pacientemente esta morte cruel; tem misericórdia de meus inimigos”.
Após a execução, as cinzas foram lançadas em um lago para que nada restasse. Mesmo assim, simpatizantes coletaram terra do local e a levaram para a Boêmia como memorial.
Embora estudiosos debatam a autenticidade da profecia, o legado de Huss como pré-reformador permanece. Seu ministério, suas pregações em língua vernácula e seus escritos prepararam o terreno para o movimento que eclodiria em 1517 com as 95 teses de Lutero.
Com informações de Guiame