Uma coalizão formada por mais de 70 líderes cristãos e organizações religiosas dos Estados Unidos divulgou uma declaração pública em que repudia a guerra em Gaza e acusa setores do sionismo cristão de justificar a opressão contra os palestinos.
O documento foi apresentado durante a conferência Church at the Crossroads 2025, realizada de quinta-feira a sábado em Glen Ellyn, Illinois. Assinam a carta pastores, teólogos, acadêmicos e ativistas que, segundo o texto, desejam “lamentar, aprender e se arrepender” do apoio de cristãos ocidentais a Israel.
Principais pedidos
Na carta, os signatários exigem:
- cessar-fogo imediato;
- libertação de todos os reféns israelenses e palestinos;
- entrada irrestrita de ajuda humanitária em Gaza;
- responsabilização pelas “ações injustas” de Israel.
Os autores afirmam que a raiz do conflito está “na ocupação militar israelense de terras palestinas e na limpeza étnica iniciada em 1948”. Eles argumentam que o apoio cristão ocidental ignora o sofrimento palestino e “compromete o testemunho do Evangelho”.
Quem assinou
Entre os signatários estão o escritor e ativista Shane Claiborne, o presidente da Sojourners, Adam Taylor, o autor best-seller Jemar Tisby, o criador da animação VeggieTales, Phil Vischer, o apresentador do podcast Theology in the Raw, Preston Sprinkle, e a reverenda Mae Elise Cannon, diretora executiva da Churches for Middle East Peace. O judeu americano e crítico de Israel Peter Beinart também endossou o texto.
Contexto do conflito
A guerra se intensificou após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que matou pelo menos 1.200 pessoas e resultou no sequestro de mais de 240 civis — entre eles, 40 norte-americanos. Em resposta, Israel lançou uma ofensiva militar na Faixa de Gaza. O Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas, relata mais de 64.000 mortos desde então.
Críticas ao sionismo cristão
Os signatários prometem “desafiar” o sionismo cristão, visão teológica que relaciona a aliança de Deus com o povo judeu ao território israelense. Para eles, essa interpretação “prejudica o testemunho cristão” e acarreta danos diretos aos palestinos.
O advogado palestino Jonathan Kuttab disse que cristãos em Gaza tiveram “casas e igrejas bombardeadas” e que, ao contrário do que alega o sionismo cristão, Deus “não favorece um povo em detrimento de outros”. O teólogo palestino Anton Deik classificou o projeto sionista como “exclusivamente judeu”, viável apenas por meio de “deslocamento forçado” dos habitantes originais.
Resposta de grupo pró-Israel
O Philos Project, organização cristã pró-Israel, reagiu afirmando que o sionismo cristão “não é minoria entre a maioria dos americanos de boa vontade” e que Israel é o “único país do Oriente Médio onde cristãos praticam sua fé com liberdade, votam e servem no governo”. O grupo acrescentou que nenhum “verdadeiro cristão sionista” usaria o Evangelho para legitimar violência injusta.
Debate sobre dados de vítimas
Kuttab defendeu a confiabilidade dos números divulgados pelo Ministério da Saúde de Gaza, ainda que o órgão seja controlado pelo Hamas. Ele argumentou que a avaliação deve se basear “na precisão da documentação” e não na orientação política de quem publica as estatísticas.
Especialistas citados pelo The Christian Post — entre eles o grupo britânico Lawyers for Israel e o analista militar John Spencer — contestam a metodologia das contagens, apontando ausência de distinção entre civis e combatentes.
Com informações de Folha Gospel