Caracas – O presidente Nicolás Maduro declarou na semana passada que “Jesus é dono e senhor da Venezuela” e anunciou que o Palácio de Miraflores será transformado em “altar para glorificar a Deus”. O gesto faz parte de uma série de iniciativas do governo para se aproximar do segmento pentecostal, enquanto cresce a tensão diplomática com os Estados Unidos.
Crescimento evangélico acelerado
Entre 2010 e 2022, o percentual de evangélicos na Venezuela saltou de 2,1% para 30,9%. O avanço ultrapassou o ritmo registrado no Brasil, onde o grupo levou cinco décadas para subir de 6% para 26,9% da população.
Analistas atribuem a expansão à abertura promovida ainda em 1999 por Hugo Chávez, que concedeu a líderes pentecostais benefícios antes restritos à Igreja Católica, como influência no ensino religioso das escolas públicas.
Movimento reúne 17 mil igrejas
Fundado em 2017, o Movimento Cristão Evangélico pela Venezuela (Mocev) atua como ponte entre o governo chavista e pastores pentecostais. Segundo o grupo, há hoje 17 mil igrejas e cerca de 5 mil pastores filiados em todos os estados.
Nos últimos anos, o Palácio de Miraflores lançou programas específicos para o segmento, entre eles:
- Minha Igreja Bem Equipada, que financia reformas e compra de equipamentos para templos;
- Bônus do Bom Pastor, com transferência direta de recursos a líderes religiosos;
- Redução de impostos para organizações confessionais;
- Criação do Dia do Pastor, celebrado em 15 de janeiro.
Denominações estrangeiras, como a brasileira Igreja Universal do Reino de Deus, também apoiam ações do Executivo.
Tensão com Washington
A retomada de exercícios navais dos EUA perto da costa venezuelana levou Maduro a intensificar mensagens voltadas a cristãos norte-americanos. No início de julho, ele pediu ajuda para “carregar a bandeira da paz, da harmonia, do perdão e da misericórdia do Senhor”.
A crise prosseguiu no sábado (29), quando o então presidente dos EUA, Donald Trump, avisou companhias aéreas de que o espaço aéreo venezuelano estava fechado.
Especialistas observam que a Venezuela se tornou um laboratório de cooperação entre um governo de esquerda e o pentecostalismo, contraste com a histórica distância mantida por igrejas evangélicas em países como Chile, Argentina e Brasil.
Com informações de Folha Gospel