O Ministério da Inteligência do Irã informou ter prendido 53 cristãos nas últimas semanas sob acusação de espionagem e “atividades antissegurança”. A televisão estatal divulgou um vídeo no qual alguns dos detidos aparecem ao lado de material religioso confiscado, incluindo Bíblias, Novos Testamentos, textos cristãos e manuais de Alcoólicos Anônimos. Segundo a pasta, os livros foram contrabandeados para o país.
No mesmo material, as autoridades alegam que os suspeitos receberam treinamento religioso no exterior e integrariam uma rede evangélica vinculada a serviços de inteligência estrangeiros. As imagens mostram trechos de vigilância e confissões obtidas durante os interrogatórios.
Mansour Borji, diretor da organização de defesa da liberdade religiosa Article18, sediada em Londres, classificou as acusações como “discurso de ódio” contra toda a comunidade evangélica persa. Ele ressaltou que os elementos apresentados não foram submetidos ao crivo do Judiciário e criticou a transmissão de confissões forçadas.
Falta de locais de culto oficiais
Borji questionou por que cristãos de língua persa não dispõem de igrejas reconhecidas dentro do Irã, o que os obriga a participar de reuniões em países vizinhos ou a depender de recursos on-line. Parte dos detidos, segundo ele, foi presa ao retornar de um encontro religioso fora do território iraniano.
Acusações recorrentes
Casos semelhantes foram registrados ao longo deste ano. Em junho, cinco cristãos foram indiciados por “aglomeração e conluio” e “propaganda contra a República Islâmica” por realizarem orações e batismos. Em abril, dois convertidos receberam 12 anos de prisão cada por possuírem várias Bíblias.
O governo intensificou a repressão após o conflito de 12 dias com Israel, informou a agência ZENIT News, que também relatou a prisão de bahá’ís, curdos, balúchis, monarquistas e jornalistas. As autoridades dizem ter detido mais de 21 000 pessoas como suspeitas nesse período.

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Perspectiva jurídica
O advogado de direitos humanos Hossein Ahmadiniaz considera improvável que os cristãos recebam julgamento justo, citando falta de independência do Judiciário e restrições ao acesso a defensores independentes em casos políticos ou religiosos.
Pelo menos 11 dos 53 cristãos foram libertados sob fiança, enquanto mais de 40 continuam detidos. Outros 60 já cumprem penas relacionadas a processos anteriores.
Em 2022, a Comissão dos EUA para a Liberdade Religiosa Internacional apontou o Irã por violações “sistemáticas e atrozes” contra minorias religiosas. O país distingue legalmente comunidades históricas armênia e assíria — autorizadas a celebrar cultos em suas próprias línguas — dos cristãos convertidos do islamismo, que não dispõem de locais oficiais de adoração. Estima-se que cerca de 800 000 cristãos vivam hoje no Irã.
Com informações de Folha Gospel