Brasília – Manifestações em várias capitais e dados recentes de pesquisas de opinião indicam a formação de um movimento de rejeição ao ministro Alexandre de Moraes e ao Supremo Tribunal Federal (STF), com potencial de se tornar força política semelhante ao antipetismo.
Prisão domiciliar de Bolsonaro intensifica protestos
A decisão de Moraes que colocou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em prisão domiciliar na segunda-feira, 4 de agosto, atuou como gatilho para a mobilização. No dia anterior, 3 de agosto, milhares foram às ruas na Avenida Paulista (São Paulo), em Copacabana (Rio de Janeiro), e em cidades como Brasília e Belo Horizonte, exigindo resposta do Senado a supostos abusos da Corte. Na segunda e na terça-feira, 5 de agosto, carreatas e buzinaços mantiveram o ato em Brasília.
Segundo os organizadores, o público superou expectativas em razão do desgaste político de Bolsonaro e das tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos. “O povo perdeu o medo do Alexandre de Moraes no domingo. Apesar da intimidação com prisões arbitrárias, o povo está dando a resposta”, afirmou o líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ).
Sanção dos EUA e gesto polêmico
No mesmo dia em que o governo norte-americano aplicou a Lei Global Magnitsky contra Moraes, o ministro fez gesto obsceno durante partida de futebol, reforçando críticas de que age com “deboche”. O Departamento do Tesouro dos EUA acusou Moraes de promover “caça às bruxas ilegal” contra cidadãos e empresas brasileiras e americanas.
Números das pesquisas
Levantamento do Datafolha com 2.004 entrevistados em 29 e 30 de julho mostra 36% de reprovação ao STF, 29% de aprovação e 31% de avaliação regular. Em março de 2024, a reprovação era de 28%. Outra pesquisa, feita em 10 e 11 de junho, indica que 58% sentem vergonha do STF e 30% demonstram orgulho.
Articulação no Congresso
Parlamentares da oposição coletam assinaturas para pedir o impeachment de Moraes. São necessários 54 votos no plenário do Senado, quantidade que o senador Ciro Nogueira (PP-PI) considera improvável no cenário atual.
Analistas apontam alcance além da direita
Para Juan Carlos Arruda, cientista político e CEO do Ranking dos Políticos, o descontentamento alcança liberais, conservadores moderados e centristas. “Pode surgir o sentimento de que ‘qualquer coisa é melhor que esse STF’, não necessariamente vinculado a Bolsonaro”, disse.

Imagem: Ton Molina via gazetadopovo.com.br
O cientista político Elton Gomes avalia que o STF tem adotado postura ativista ao se envolver em pautas políticas, o que ampliaria o desgaste institucional. Já Adriano Cerqueira, do Ibmec-BH, observa que a crítica à Corte se expande “fora do bolsonarismo”, embora a marca do ex-presidente permaneça presente nos atos.
Buzinaços podem escalar mobilização
Deusélis Braga, do movimento “Influenciadores do Brasil”, organizou buzinaço na capital federal e comparou a onda de 2025 às manifestações de 2013: “Para toda transformação, precisamos do início. O início é o buzinaço. Está o Brasil todo fazendo”.
Organizadores planejam novos protestos enquanto pressionam o Congresso por pautas como anistia a manifestantes e análise de pedidos de impeachment.
Especialistas lembram que o antipetismo, surgido nos anos 1980 e fortalecido por escândalos como o Mensalão, culminou no impeachment de Dilma Rousseff e na eleição de Bolsonaro em 2018. A dúvida agora é se a rejeição ao STF seguirá trajetória capaz de influenciar futuras disputas eleitorais.
Com informações de Gazeta do Povo