A Missão Eurásia pretende atender 30 mil crianças em 14 países durante o verão boreal, por meio de acampamentos que combinam cuidados para traumas de guerra com ensinamentos cristãos. Segundo a organização, 80% dos participantes serão crianças ucranianas cujas rotinas foram abaladas pela invasão russa iniciada em 2022.
Espaços seguros em meio ao conflito
Os acampamentos, realizados em parceria com igrejas já estabelecidas e novas congregações, concentram-se principalmente nas regiões central e oeste da Ucrânia, consideradas relativamente mais seguras. Mesmo assim, a Missão Eurásia reconhece que não há garantia de proteção total.
“Para muitas crianças, é a primeira vez em meses que elas podem brincar sem medo e ouvir uma mensagem de esperança”, afirmou o presidente da entidade, Sergey Rakhuba, natural da região de Donbass, em entrevista ao Christian Daily International.
Carência de atendimento especializado
Em conferência realizada em maio, na Finlândia, a enviada especial do Conselho da Europa Thórdís Kolbrún Reykfjord Gylfadóttir alertou que a reconstrução da Ucrânia será inviável sem cuidar diretamente do trauma infantil. Ela destacou que muitos profissionais que lidam com menores não possuem formação específica em abordagem baseada em traumas.
Para preencher essa lacuna, a Missão Eurásia mobiliza conselheiros especializados que trabalham lado a lado com líderes de igrejas locais. As atividades incluem recreação, ensino bíblico, debates em pequenos grupos e sessões individuais de aconselhamento para crianças que enfrentaram deslocamento, violência ou perda de familiares.
Relatos do campo
Rakhuba contou que muitos participantes chegam assustados e desconfiados. Em Zaporizhzhia, crianças de um dos acampamentos precisaram se abrigar em um porão durante um ataque de drones; minutos depois, retomaram a programação. “Os pais dizem que se sentem mais tranquilos quando os filhos estão perto da igreja ou sob cuidados cristãos”, relatou.
Formação de líderes locais
Os acampamentos Verão da Esperança integram a estratégia da Missão Eurásia para capacitar líderes nacionais. O programa Escolas Sem Muros treina jovens em ministério e atendimento a traumas, permitindo que dirijam atividades em suas próprias comunidades.
A organização sublinha que, embora fundamentados na fé cristã, os acampamentos visam sobretudo restaurar a esperança e fortalecer laços comunitários. Após o término das atividades, equipes locais mantêm contato com as famílias, oferecendo suporte contínuo; muitos responsáveis passam a frequentar a igreja depois de observar o cuidado oferecido aos filhos.
Imagem: folhagospel.com
Devastação e resistência
Em visitas às áreas de frente de batalha, Rakhuba relata vilarejos com quase todas as casas danificadas e famílias enlutadas. Ele mencionou o caso de um adolescente morto por estilhaços enquanto corria para um abrigo: “Os pais disseram que preferem morrer em casa a abandoná-la”.
Histórico e expansão
O modelo de acampamentos teve início em 1992, nos arredores de Moscou, quando um antigo campo comunista foi convertido em retiro cristão. Desde então, o formato foi adaptado para contextos de guerra, com alertas de ataque aéreo, toques de recolher e atividades que mesclam jogos, artesanato e contação de histórias.
Além da Ucrânia, a Missão Eurásia organiza acampamentos para refugiados ucranianos na Polônia e na Moldávia, bem como ações em Cazaquistão, Uzbequistão, Armênia, Azerbaijão e Israel, onde apoia iniciativas que reúnem judeus e árabes cristãos.
Pedido de oração
Segundo a missão, o número de frequentadores de igrejas na Ucrânia triplicou desde o início do conflito, impulsionado pela busca de apoio prático e espiritual. Rakhuba solicitou orações pelo fim da guerra, sabedoria para líderes mundiais e proteção às equipes em campo. “Queremos que as crianças vivenciem alegria e descubram que há esperança para suas vidas”, concluiu.
Com informações de Folha Gospel
