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Lula insiste em alternativa ao dólar enquanto tarifas dos EUA elevam tensão, dizem economistas

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Brasília — 09/08/2025, 11h03. Mesmo sob pressão do aumento de 50% nas tarifas norte-americanas e diante da ameaça de novas sanções, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a defender a criação de uma moeda que substitua o dólar nas transações internacionais. A declaração foi feita no domingo (3), durante a posse de Edinho Silva como novo presidente nacional do PT.

“Eu não vou abrir mão de achar que a gente precisa construir uma moeda alternativa para negociar com os outros países”, afirmou Lula, retomando um tema discutido no âmbito do Brics — bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e é visto pelos Estados Unidos como antagonista estratégico.

Anúncio irrita Trump

O posicionamento brasileiro provocou reação imediata do presidente republicano Donald Trump. “Não há chance de os Brics substituírem o dólar no comércio internacional; qualquer país que tentar terá de dizer olá às tarifas e adeus aos EUA”, declarou o chefe da Casa Branca.

Analistas ouvidos pela reportagem enxergam consequências econômicas ainda imprevisíveis. Para o professor Mauro Rochlin, da FGV-SP, insistir no tema neste momento “é contraproducente” e “atrapalha” as negociações em curso com Washington. Já Simão Silber, da USP, considera “impensável” mudar contratos internacionais dolarizados no curto prazo. Ele lembra que o Brasil “já levou o maior imposto de importação do planeta” e que grande parte dos produtos nacionais está barrada no mercado norte-americano.

Domínio do dólar

O dólar responde por cerca de 70% das transações globais, compõe a maior parte das reservas internacionais e está no centro de sistemas como o Swift, que permite transferências entre países. Segundo Silber, a força da moeda é sustentada pelo Produto Interno Bruto dos Estados Unidos, hoje superior a US$ 28 trilhões — 12,5 vezes o PIB brasileiro e 1,55 vez o chinês.

De acordo com Rochlin, para outra divisa assumir o papel do dólar seria necessário que o país emissor tivesse peso econômico semelhante ao dos EUA, comércio exterior igualmente relevante e confiança internacional consolidada. O euro, mesmo dentro de um mercado integrado, detém menos de 15% da circulação financeira global, enquanto o yuan enfrenta desconfiança por causa do sistema político chinês.

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Imagem: Washington Costa via gazetadopovo.com.br

Experiências limitadas

Nos Brics, a discussão foca em sistemas de pagamento que reduzam a dependência da moeda norte-americana. Entre os exemplos citados pelo economista Roberto Luis Troster está o Sistema de Pagamentos em Moedas Locais (SML) do Mercosul, responsável por apenas 7% do comércio entre Brasil e Argentina. Rússia e China também criaram plataformas próprias — SPFS e CIPS, respectivamente —, mas elas ainda têm alcance restrito.

Para Silber, a infraestrutura financeira global segue “profundamente ancorada” no dólar. Na avaliação de Rochlin, a tentativa brasileira de aposentar a moeda dos Estados Unidos enfrenta um obstáculo “praticamente intransponível” no cenário atual.

Com informações de Gazeta do Povo