Brasília, 29 de outubro de 2025 — O deslocamento do porta-aviões USS Gerald R. Ford e de cerca de 10 mil militares dos Estados Unidos para o Caribe colocou o governo de Nicolás Maduro sob a maior pressão externa desde 2019. A movimentação foi tema de entrevista do pesquisador Ricardo S. De Toma, doutor em Estudos Estratégicos Internacionais e integrante da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército Brasileiro.
Operações ampliadas
Além da força-tarefa naval, o presidente norte-americano Donald Trump autorizou a CIA a executar missões de inteligência em solo venezuelano. De Toma classificou o quadro como “cenário propício à securitização de agendas” e afirmou que o próximo passo de Washington pode ser a “neutralização” de Maduro.
Acusações de narcotráfico
Washington sustenta que Caracas abriga o Cartel de Los Soles, suposta rede de narcotráfico liderada pelo próprio ditador venezuelano. O Palácio de Miraflores reage alegando que a presença militar dos EUA é uma provocação destinada a forçar mudança de regime.
“Ninguém usa um maçarico para repelir um mosquito”
Questionado se a mobilização seria apenas demonstração de força, o analista lembrou que bombardeiros B-52 permaneceram durante horas na Região de Informação de Voo de Maiquetía sem reação da Força Aérea venezuelana, e que helicópteros de combate dos EUA foram vistos a menos de 150 quilômetros da costa. “Ninguém usa um maçarico para repelir um mosquito”, resumiu.
Resposta regional limitada
Para De Toma, apenas o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, manteria apoio firme a Maduro. Cuba já descartou auxílio militar, enquanto Brasil e Colômbia tenderiam às notas de repúdio. “O regime de Maduro é praticamente radioativo”, disse.
NATO e aliados europeus
Em eventual ação, os EUA poderiam requisitar suporte de inteligência ou facilidades logísticas de potências europeias com território no Caribe, como França e Países Baixos, e contar com colaboração britânica, afirmou o especialista.
Capacidade de defesa venezuelana
O pesquisador apontou falhas graves de logística em suprimentos básicos, combustíveis e munição, o que limitaria a resistência de Caracas. Milícias internas, grupos criminosos e guerrilheiros do ELN e dissidências das FARC, segundo ele, poderiam ser acionados, mas sem alterar o resultado militar.
China, Rússia e impactos ao Brasil
De Toma avalia que Moscou veria vantagem em responsabilizar os EUA por eventual conflito, enquanto Pequim estaria preocupada com dívidas não pagas por Caracas. Para o Brasil, os principais riscos seriam aumento da migração e possíveis sanções caso lidere oposição diplomática às operações norte-americanas.
CIA em campo
O entrevistado lembra que a CIA “nunca deixou de operar” na Venezuela e que ações discretas — inclusive com participação de serviços como o Mossad — já ocorreram durante os governos Hugo Chávez e Maduro.
As declarações foram dadas à Gazeta do Povo na noite de quarta-feira (29) e refletem a avaliação de que Washington ajusta o tabuleiro para uma possível ação direta contra o regime venezuelano.
Com informações de Gazeta do Povo