26.out.2025 — Kuala Lumpur (Malásia) — O esperado encontro presencial de 45 minutos entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terminou sem qualquer sinal de alívio nas tarifas extras impostas a produtos brasileiros. Ao fim da reunião, apenas novas rodadas de negociação foram agendadas, enquanto as sanções comerciais e as condições estabelecidas por Washington seguem intactas.
Entusiasmo de aliados contrasta com resultado
Nas redes sociais, aliados do governo celebraram a imagem do aperto de mãos entre os dois chefes de Estado. O senador Humberto Costa (PT-ES) falou em “química cada vez maior”, enquanto o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP) brincou que “nem a inteligência artificial previa” o encontro. O presidente do PT, Edinho Silva, chamou o diálogo de “caminho sempre correto”.
Apesar da animação, o governo norte-americano manteve o chamado “tarifaço” de 50%, apelidado de Tarifa Moraes, vinculado às alegações de perseguição judicial, violações de direitos humanos e restrições à liberdade de expressão no Brasil.
Oposição cobra Lula e ironiza tentativa de mediação
Parlamentares da oposição reagiram. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) questionou, em postagem, “o que foi tratado a portas fechadas”, mencionando o exílio do pai nos EUA. Já o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcanti, afirmou que Lula terá de “abandonar o discurso de culpar Eduardo Bolsonaro pelo tarifaço”.
Condições de Trump incluem fim de perseguição a Bolsonaro
Antes do encontro, Trump declarou a jornalistas que está disposto a rever as tarifas “se algumas condições forem atendidas”, entre elas o encerramento da “perseguição judicial” ao ex-presidente Jair Bolsonaro. O republicano voltou a elogiar o antecessor de Lula, chamando-o de “bom sujeito”. Questionado sobre o tema, Lula encerrou a entrevista coletiva.
Rubio assume negociações políticas
Designado por Trump para tratar dos pontos políticos, o secretário de Estado Marco Rubio reforçou a “parceria estratégica” com o Brasil, mas expressou preocupação com decisões de magistrados brasileiros que, na visão de Washington, afetam empresas digitais dos EUA e a liberdade de expressão de usuários em solo americano. “Tudo está interligado”, resumiu.
Interesses geopolíticos: Venezuela e China no radar
Para o professor Daniel Vargas, da Fundação Getulio Vargas, manter conversas com Brasília é essencial para a Casa Branca em meio a tensões com Caracas e Pequim. Ele lembra que os EUA deslocaram seu maior porta-aviões para o Caribe, sinalizando possível ação contra o regime venezuelano. “Trump quer um canal aberto com a maior potência regional”, afirmou.
O economista José Pio Martins avalia que a principal inquietação de Washington é evitar que o Supremo Tribunal Federal repita, no Brasil, o que o governo americano considera um “modelo venezuelano” de controle judicial, o que aproximaria o país da órbita chinesa.
Magnitsky mantém pressão
Vargas destaca que as sanções amparadas pela Lei Magnitsky e as investigações comerciais abertas contra o Brasil são políticas de Estado. “Sem mudanças concretas no Judiciário, a chance de o tarifaço ser revogado é praticamente zero”, disse.
Próximos passos
Nas redes sociais, Lula afirmou que equipes dos dois governos “vão se reunir imediatamente” para buscar soluções. A Casa Branca, porém, não divulgou detalhes da conversa, e Trump não comentou o tema em seus perfis.
Até o momento, portanto, a relação bilateral permanece na mesma posição: diálogo aberto, mas dependente de avanços em temas sensíveis como liberdade de expressão, Venezuela, China e o tratamento judicial dado a opositores no Brasil.
Com informações de Gazeta do Povo