O Planalto confirmou nesta segunda-feira, 6 de outubro de 2025, que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nomeou o secretário de Estado, Marco Rubio, para conduzir as futuras negociações bilaterais com o Brasil.
A decisão foi anunciada após uma ligação de aproximadamente 30 minutos entre Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No contato, Lula solicitou a retirada de tarifas sobre produtos brasileiros e o fim de medidas restritivas aplicadas a autoridades do país, incluindo sanções da Lei Magnitsky contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e sua esposa, Viviane Barci.
Expectativas para a mesa de diálogo
Para Brian Winter, editor-chefe da revista Americas Quarterly, a escolha de Rubio representa “o caminho mais duro possível” para Brasília. Em postagem na rede X, o analista lembrou que o secretário é crítico antigo de Lula e pode exigir contrapartidas sobre temas como Venezuela e China.
Em entrevista à TV Mirante, poucas horas depois da conversa com Trump, Lula disse ter pedido que Rubio inicie o diálogo “sem preconceito”.
Winter apontou ainda, em artigo publicado no fim de setembro, que a Casa Branca busca equilibrar pragmatismo econômico e coerência ideológica nas relações com o Brasil, mantendo parte das sanções enquanto abre espaço para acordos em setores estratégicos, como minerais críticos e tecnologia.
Nauê Bernardo Azevedo, cientista político e professor do Ibmec Brasília, avalia que Rubio chega com “forte inclinação ideológica”, mas ressalta que o poder de decisão permanece concentrado em Trump. “Se há boa relação entre os presidentes, não se pode descartar um acordo razoável para o Brasil”, afirmou.
Já o economista João Gabriel Araujo, também do Ibmec, vê a indicação como uma movimentação estratégica para proteger interesses econômicos norte-americanos. Segundo ele, o fato de haver um negociador demonstra disposição para o diálogo, em meio à pressão interna nos EUA por causa do risco de inflação de alimentos.
Perfil linha-dura
Filho de cubanos que fugiram do regime de Fidel Castro, Marco Rubio, 54 anos, é um dos principais nomes do Partido Republicano. No Senado, foi autor de sanções contra o presidente venezuelano Nicolás Maduro e defensor do endurecimento de medidas contra Cuba.
Como chefe do Departamento de Estado, denunciou o programa Mais Médicos como “trabalho forçado” cubano e revogou vistos de autoridades brasileiras ligadas ao projeto, entre elas o atual ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Sob sua gestão, Washington ampliou sanções a Cuba, Venezuela e Nicarágua e criticou violações de direitos humanos no Brasil, atribuindo parte delas ao Poder Judiciário.
Ao longo dos últimos anos, Rubio qualificou Lula como “líder de extrema esquerda” e condenou o bloqueio da rede X determinado por Alexandre de Moraes, classificando a medida como censura. O Departamento de Estado revogou vistos de integrantes do governo brasileiro, de ministros do STF e do procurador-geral da República, alegando perseguição a opositores.
Repercussão na oposição brasileira
Parlamentares ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro saudaram a indicação. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) considerou a escolha um “golaço”, enquanto o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) disse tratar-se de oportunidade para dialogar com alguém que “entende os prejuízos do socialismo”. Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) descreveu a medida como “jogada de craque”, e Alexandre Ramagem (PL-RJ) afirmou que Rubio seguirá a cartilha de Trump por “normalidade democrática e fim da censura”.
As conversas entre os dois governos ainda não têm data marcada para começar.
Com informações de Gazeta do Povo