O cessar-fogo firmado entre Israel e Hamas, que entrou em vigor nesta sexta-feira (10), trouxe alívio momentâneo ao Oriente Médio, mas também jogou luz sobre a influência cada vez maior do Catar na Casa Branca do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Garantia de defesa ao emirado
Duas iniciativas recentes ilustram o estreitamento de relações. Primeiro, Trump assinou uma ordem executiva declarando que qualquer agressão contra o Catar será tratada como ataque direto aos EUA, em mecanismo comparado ao artigo 5 da Otan. Pouco antes, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, foi pressionado a pedir desculpas a Doha por um incidente ocorrido em setembro, episódio visto como constrangedor para o líder de Israel.
Refúgio do Hamas e elo com o Irã
Desde os atentados de 7 de outubro de 2023, o Catar tornou-se principal abrigo de dirigentes do Hamas. O país também mantém laços históricos com o Irã, circunstância que contrasta com a retórica antiterror de Washington. Ainda assim, Doha passou ilesa às críticas mais duras do governo norte-americano.
Três blocos informais no Oriente Médio
Em artigo recente no jornal Times of Israel, a ex-parlamentar Ksenia Svetlova descreveu três alianças regionais: o “eixo iraniano”, que reúne Teerã, Hamas e Hezbollah; o “eixo moderado”, formado por Arábia Saudita, Emirados Árabes, Egito, Jordânia e outros; e o “eixo Catar-Turquia”, simpatizante da Irmandade Muçulmana. Segundo Svetlova, Doha costuma se opor ao bloco saudita-egípcio ao mesmo tempo em que recebe tropas e investimentos norte-americanos.
Visita, presente e mediação
Em maio, Trump visitou Doha e ganhou de presente um Boeing 747 para servir como futura aeronave presidencial. O emirado também atua como mediador nas negociações entre Israel e Hamas, reforçando seu peso diplomático.
Do campi universitário às bases militares
Relatório do Departamento de Educação dos EUA apontou, em 2020, US$ 6,6 bilhões em aportes estrangeiros a universidades norte-americanas; parte desse montante veio do Catar. Entre 2012 e 2019, Harvard recebeu cerca de US$ 7 milhões do emirado. Nos últimos anos, esses campi viraram palco de protestos violentos contra Israel.
No front militar, o Catar abriga a maior base aérea dos EUA no Oriente Médio, Al Udeid, alvo de ataque iraniano neste ano. Nesta sexta-feira (10), Washington anunciou a instalação da primeira base aérea catariana em território americano, ampliando a cooperação de defesa.
Volta-face desde 2017
No primeiro mandato, Trump chegou a aderir ao boicote regional ao Catar, acusando o país de financiar o terrorismo. Semanas depois, recuou, citando a importância estratégica de Al Udeid. Desde então, vínculos comerciais entre Doha e a família do presidente se intensificaram, incluindo aporte catariano a um projeto imobiliário da Kushner Companies.
Em coletiva recente com Netanyahu, Trump classificou o emir Tamim bin Hamad Al Thani como “homem fantástico” por ajudar no plano de paz para Gaza. Embora o Hamas permaneça armado e com reféns desde 2023, Washington não cobrou publicamente ações mais firmes de Doha contra o grupo.
A prosperidade financeira do Catar, somada ao papel de mediador e ao apoio logístico às forças norte-americanas, consolida uma parceria que, na avaliação de observadores, limita a margem de manobra de Israel e reforça a influência do emirado em Washington.
Com informações de Gazeta do Povo