A fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) divulgou nesta terça-feira (21) seu relatório sobre liberdade religiosa referente ao biênio 2023-2024. O documento indica crescimento expressivo da perseguição motivada por fé em todo o planeta, com destaque negativo para a China.
Entre os 196 países avaliados, 62 registram violações graves do direito à liberdade religiosa; 24 são classificados como nações de perseguição e 38 de discriminação. Apenas Cazaquistão e Sri Lanka apresentaram melhora em comparação com o levantamento anterior.
China intensifica controle e punições
O relatório atribui à doutrina da “sinicização” imposta pelo presidente Xi Jinping o agravamento das restrições no país asiático. De acordo com a ACN, religiões só podem atuar se aceitarem submeter-se à ideologia socialista “com características chinesas”. Quem descumpre a determinação enfrenta vigilância, prisões e perda de benefícios sociais.
Em outubro, 30 pastores e líderes da Igreja Zion – uma das maiores congregações evangélicas não registradas na China – foram detidos. O regime também instalou câmeras com reconhecimento facial em templos e relaciona a presença em locais de culto ao sistema de créditos sociais, reduzindo pontuação de fiéis e dificultando acesso a empréstimos, promoções e serviços digitais.
Jihadismo e polarização agravam cenário em outras regiões
Segundo a presidente da ACN Brasil, Ana Manente, o avanço de grupos jihadistas em países de maioria muçulmana da África e do Oriente Médio ampliou a violência contra minorias religiosas. Já no Ocidente, a fundação observou alta de atos antissemitas e antimuçulmanos após os ataques de 7 de outubro de 2023 em Israel. Na França, incidentes contra judeus subiram 1.000%, enquanto crimes de ódio contra muçulmanos cresceram 29%.
Brasil registra alta de casos, mas segue fora da lista mais crítica
Embora o Brasil não figure entre os países com violações mais severas, o relatório contabilizou 2.124 denúncias de intolerância religiosa em 2023, primeiro ano do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva – aumento de 80% em relação a 2022. No primeiro semestre de 2024, a curva manteve ritmo semelhante. As principais vítimas foram adeptos de religiões afro-brasileiras, como candomblé e umbanda.
Manente afirma que a punição aos agressores é essencial para evitar a normalização da violência. Ela ressalta ainda manifestações de “perseguição educada”, como ataques virtuais a perfis que defendem pautas cristãs.
O relatório completo da ACN reúne dados, exemplos de violações e recomendações para governos e sociedade civil no enfrentamento à repressão religiosa.
Com informações de Gazeta do Povo