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Argentina revela primeiros cavalos criados com edição genética CRISPR

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Cinco potros que vivem em uma fazenda na província de Buenos Aires se tornaram, em 18 de novembro de 2025, os primeiros cavalos geneticamente editados do mundo. Desenvolvidos pela empresa argentina Kheiron Biotech, eles receberam uma modificação no gene da miostatina por meio da técnica CRISPR, voltada a ampliar a massa muscular e, consequentemente, garantir maior explosão de velocidade.

Como foi feita a alteração

Os animais são clones do premiado cavalo Polo Pureza. A diferença em relação à clonagem convencional é a inserção de uma sequência de DNA durante o estágio embrionário, processo possibilitado pelo CRISPR, descrito por cientistas como uma “tesoura genética” capaz de ajustar o genoma com precisão.

Impedimento em competições

Apesar da inovação, os potros estão vetados de torneios de polo. A Associação Argentina de Polo proíbe a participação de animais transgênicos nas partidas, mesmo permitindo a clonagem tradicional. O presidente da entidade, Benjamin Araya, declarou que a prática “tira o charme da criação” e manifestou preferência pelos métodos convencionais de reprodução.

A Associação Argentina de Criadores de Cavalos informou que acompanhará os exemplares por até cinco anos antes de decidir sobre eventual registro esportivo. O diretor científico da Kheiron, Gabriel Vichera, disse não estar preocupado e aposta em diálogo para ampliar a aceitação.

Reações do setor

Entre criadores, as opiniões divergem. O ex-jogador de polo Marcos Heguy compara a inovação a “pintar um quadro com inteligência artificial” e afirma que ela “arruína os criadores”. Já o criador veterano Eduardo Ramos argumenta que avanços como clonagem e transplante de embriões sempre enfrentaram resistência inicial, mas acabaram se consolidando.

Uma carta assinada por 50 criadores, enviada à associação de criadores de polo, sustenta que a edição genética “ultrapassa um limite” e pede reflexão antes de qualquer registro oficial. O presidente da entidade, Santiago Ballester, disse que agirá com cautela para avaliar impactos no mercado.

Análise regulatória

O Serviço Nacional de Biotecnologia Agrícola da Argentina analisou o DNA dos potros e não apontou irregularidades, segundo documento obtido pela agência Reuters. O geneticista Ted Kalbfleisch, do Gluck Equine Research Center (Universidade de Kentucky), avaliou que a intervenção acelera mudanças que levariam gerações para ocorrer de forma natural e não necessariamente cria vantagem injusta, pois a tecnologia já é acessível a quem possa custeá-la.

Expansão da clonagem

Desde 2011, a Kheiron produz clones comerciais e prevê alcançar 400 animais até o fim de 2025, mais da metade dos cavalos clonados no país. Cada clone é negociado, em média, por US$ 40 mil. Com a edição genética, a empresa tenta abrir novo mercado, mas suspendeu vendas até que haja definição sobre a participação dos potros em competições.

Polo e tradição

Introduzido na Argentina por imigrantes britânicos em 1882, o polo é praticado principalmente por famílias de alta renda e responde pela exportação anual de cerca de 2,4 mil cavalos. A discussão sobre as fronteiras tecnológicas no esporte agora se concentra na viabilidade de incluir — ou não — animais com genoma editado.

Os cinco potros deverão iniciar treinamento com sela aos dois anos de idade. Até lá, indústria, criadores e reguladores tentarão definir se a edição genética terá espaço oficial nos campos de polo argentinos.

Com informações de Gazeta do Povo