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Países muçulmanos retomam debate sobre pacto de defesa coletiva após acordo entre Arábia Saudita e Paquistão

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Riad – A assinatura de um “Acordo Estratégico de Defesa Mútua” entre Arábia Saudita e Paquistão, em 17 de setembro, reacendeu a discussão sobre a criação de uma aliança militar islâmica nos moldes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

O pacto foi firmado pelo príncipe-herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, e pelo primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Sharif, durante reunião realizada na capital saudita. Na prática, o texto prevê que um ataque a qualquer um dos dois países será tratado como agressão conjunta, princípio semelhante ao artigo 5 da Otan.

O interesse pelo acordo ganha peso por duas razões: a Arábia Saudita é considerada o centro religioso do islamismo sunita e o Paquistão é a única nação muçulmana com arsenal nuclear. Ambos mantêm histórico de tensões com o Irã.

Ataque em Doha acelera conversas regionais

O recente bombardeio israelense contra alvos do Hamas em Doha, Catar, levou governos árabes a convocar reuniões de emergência. Em 18 de setembro, o Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) — formado por Catar, Omã, Kuwait, Bahrein, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos — divulgou nota classificando a ofensiva como agressão “contra todos” os membros.

Na mesma sessão, ministros da Defesa do Golfo aprovaram ampliar o intercâmbio de informações de segurança e acelerar estudos para um sistema de alerta contra mísseis balísticos.

Propostas além do Golfo

Durante encontro conjunto da Liga Árabe e da Organização da Cooperação Islâmica, na semana passada, o Egito sugeriu uma aliança militar mais ampla. O primeiro-ministro iraquiano, Mohammed Shia al-Sudani, defendeu uma “abordagem coletiva” de defesa.

Ceticismo de especialistas

Analistas veem obstáculos à formação de uma “Otan islâmica”. Andreas Krieg, professor do King’s College London, afirmou à emissora alemã DW que os governos do Golfo não pretendem se envolver em conflitos que não considerem vitais. Para Cinzia Bianco, pesquisadora do Conselho Europeu de Relações Exteriores, um modelo mais viável seria o formato “6+1”, integrando os seis países do CCG, a Turquia e o Egito, com foco em dissuasão, mas sem cláusula automática de defesa coletiva.

Por enquanto, o tratado saudita-paquistanês permanece como iniciativa isolada, mas serve de ponto de partida para discussões sobre uma eventual arquitetura de segurança conjunta no mundo islâmico.

Com informações de Gazeta do Povo