Oslo — O Comitê Norueguês do Nobel da Paz iniciou, nesta sexta-feira (10), uma investigação interna para descobrir se dados confidenciais sobre o prêmio de 2025 foram divulgados antes do anúncio oficial da vencedora, a opositora venezuelana María Corina Machado.
Jornais da Noruega, além dos britânicos The Guardian e The Wall Street Journal, relataram que, poucas horas antes da divulgação do resultado, apostas na plataforma americana Polymarket aumentaram a probabilidade de vitória de Machado de 3,75% para 72,8%. O pico ocorreu logo após a meia-noite de quinta-feira (horário local) e rendeu lucros vultosos. Um usuário identificado como “6741” teria faturado mais de US$ 50 mil, enquanto outro, com conta criada no mesmo dia, obteve ganho semelhante, segundo o diário norueguês Finansavisen.
“Parece que fomos vítimas de um ator criminoso que buscou lucrar com nossas informações”, afirmou o diretor do Instituto Nobel, Kristian Berg Harpviken, à agência Bloomberg. O porta-voz do Instituto, Erik Aasheim, confirmou a apuração preliminar: “Percebemos ganhos financeiros significativos em apostas sobre o prêmio deste ano e vamos verificar se alguém acessou dados de forma ilegal”.
A conquista de María Corina Machado, oficializada na manhã de sexta-feira, marca a primeira vez que uma personalidade da Venezuela recebe o Nobel da Paz, reconhecimento por sua atuação contra o governo de Nicolás Maduro. Até poucas horas antes do anúncio, casas de apostas apontavam como favorita Yulia Navalnaya, viúva do opositor russo Alexey Navalny, seguida pelo ex-presidente dos EUA Donald Trump.
Especializada em negociações com criptomoedas, a Polymarket permite prever resultados em política, esportes e entretenimento e ganhou notoriedade ao acertar a vitória de Trump na eleição presidencial norte-americana de 2024. Fora da jurisdição dos Estados Unidos, a empresa não é regulada e não impede o uso de informação privilegiada, o que dificulta a detecção de eventuais crimes financeiros.
O interesse de investidores em mercados de previsão aumentou nesta semana, quando a controladora da Bolsa de Valores de Nova York anunciou aporte de até US$ 2 bilhões na Polymarket, avaliando a plataforma em US$ 8 bilhões.
Questionado pelo jornal Aftenposten sobre a possibilidade de o vazamento ter partido do próprio comitê, o presidente Jørgen Watne Frydnes disse que o grupo “costuma ser muito bom em guardar segredos”, lembrando o sigilo mantido ao longo das últimas cinco décadas. Harpviken acrescentou que ainda é cedo para apontar a origem da falha, mas indicou que uma investigação formal será “inevitável”.
Com informações de Gazeta do Povo