Milão, 12 nov. 2025 – O Ministério Público de Milão confirmou que investiga supostas viagens de cidadãos italianos que, entre 1992 e 1996, teriam pago até 100 mil euros para atirar em civis sitiados em Sarajevo durante a Guerra da Bósnia.
A apuração começou após denúncia apresentada pelo escritor Ezio Gavazzeni e pelos advogados Nicola Brigida e Guido Salvini. Segundo Brigida, a documentação entregue reúne depoimentos de soldados, relatórios de inteligência e registros que apontam a organização dessas viagens, realizadas por italianos que passavam pela cidade de Trieste antes de chegar à capital bósnia.
Relatos de “safári humano”
O ex-general de brigada e ex-agente de inteligência bósnio Edin Subasic declarou à emissora regional N1 que “italianos ricos” pagavam uma quantia fixa a combatentes sérvio-bósnios posicionados no bairro de Grbavica para disparar contra “adultos, mulheres, crianças, grávidas e até soldados” cercados em Sarajevo.
Subasic afirmou que alguns desses atiradores de fim de semana já morreram, mas os mais jovens ainda podem ser levados à Justiça. O relato também foi tema do documentário “Sarajevo Safari”, do cineasta esloveno Miran Zupancic, lançado em 2022.
Crime sem prescrição
O Ministério Público de Milão enquadrou a conduta investigada como homicídio múltiplo com agravantes de motivo torpe e crueldade – delitos que não prescrevem. Na Bósnia, um processo semelhante foi aberto após denúncia da então prefeita de Sarajevo, Benjamina Karic (mandato de 2021 a 2024).
Cerco de Sarajevo
Entre 1992 e 1996, a capital bósnia permaneceu cercada por forças sérvio-bósnias que buscavam consolidar território para o projeto da “Grande Sérvia”, apoiado por Slobodan Milosevic. O bloqueio resultou em bombardeios constantes e ataques de franco-atiradores das colinas vizinhas, deixando mais de 10 mil mortos. O cerco terminou oficialmente em fevereiro de 1996, após o acordo de paz firmado em dezembro de 1995.
As investigações prosseguem sem indiciados nomeados até o momento.
Com informações de Gazeta do Povo