Buenos Aires – O governador da Província de Buenos Aires, Axel Kicillof, garantiu maioria nas urnas neste domingo (7) e impôs um revés ao presidente Javier Milei. Com 47% dos votos, a chapa peronista superou os 34% obtidos pela coligação A Liberdade Avança (LLA) na disputa por 46 das 92 cadeiras da Câmara de Deputados provincial e 23 dos 46 assentos do Senado local.
A derrota foi ainda mais sentida pelo governo federal porque pesquisas indicavam empate técnico na véspera da votação. O resultado fortalece Kicillof como provável concorrente à Casa Rosada em 2027, em meio ao desgaste de Milei após denúncias de corrupção na Agência Nacional de Deficiência (Andis) que envolvem sua irmã e secretária-geral da Presidência, Karina Milei.
Governador comemora e critica a Casa Rosada
Ao celebrar a vitória, Kicillof afirmou que “as urnas disseram a Milei que as obras públicas não podem ser paralisadas” e criticou cortes federais em educação, saúde, ciência e cultura, além de acusar o presidente de “insultar a democracia, o federalismo e a Constituição”.
Trajetória de Axel Kicillof
Economista formado pela Universidade de Buenos Aires (UBA), Kicillof, 53 anos, integrou o governo de Cristina Kirchner entre 2007 e 2015 como secretário de Política Econômica e, depois, ministro da Economia e Finanças Públicas. Em 2016, foi indiciado por suposto esquema de venda de dólares futuros pelo Banco Central, processo arquivado em 2021 pelo Tribunal Federal de Apelações e definitivamente encerrado pela Suprema Corte em dezembro de 2024.
Após passagem como deputado nacional, conquistou o governo da Província de Buenos Aires em 2019 e se reelegeu em 2023.
Confrontos com Javier Milei
Desde que Milei assumiu a presidência, em dezembro de 2023, os dois trocam acusações frequentes. Em março de 2024, o presidente apoiou um apelo de deputados da LLA para que contribuintes da província sonegassem impostos diante do aumento de tributos decretado por Kicillof. Em fevereiro deste ano, Milei afirmou que a província vivia um “banho de sangue” em razão da violência; o governador respondeu dizendo que a Casa Rosada retém recursos destinados à segurança.
Em maio, o embate voltou a esquentar quando o governo federal anunciou plano para regularizar dólares mantidos fora do sistema bancário. Kicillof prometeu fiscalizar e cobrar impostos sobre essas economias no território provincial.
Imagem: Nicolas Aboaf
Eleições provinciais antecipadas
A decisão de realizar a votação legislativa provincial em 7 de setembro, antes das eleições nacionais de 26 de outubro, foi considerada arriscada até por aliados do peronismo. Em junho, Cristina Kirchner questionou publicamente a estratégia, lembrando que eventual fracasso no “reduto peronista” poderia se refletir nos pleitos nacionais.
O escândalo na Andis, porém, mudou o cenário e contribuiu para o resultado favorável ao governador. Agora, Milei, que chamou o rival de “inútil esférico, inútil de qualquer ângulo que se olhe”, busca evitar novo tropeço na eleição federal de outubro, quando estarão em disputa 127 das 257 cadeiras da Câmara dos Deputados e 24 dos 72 assentos do Senado.
Os próximos 45 dias prometem novo round na disputa entre o governo nacional e o peronismo de Buenos Aires.
Com informações de Gazeta do Povo