Gaza – Dois anos depois do ataque de 7 de outubro de 2023, que deixou 1,1 mil mortos e 251 sequestrados em Israel, o Hamas chega a 2025 drasticamente reduzido. Das cerca de 30 mil pessoas que compunham o grupo, 25 mil teriam sido mortas, segundo as Forças de Defesa de Israel (FDI).
Baixas expressivas e isolamento
Além das perdas humanas, o Hamas viu suas principais lideranças militares e políticas, entre elas Ismail Haniyeh e Yahya Sinwar, serem eliminadas. Aliados estratégicos, como Irã e Hezbollah, também registraram grandes baixas e aceitaram cessar-fogos, o que limitou os canais de abastecimento de armas para Gaza.
Para o coronel da reserva Paulo Roberto da Silva Gomes Filho, analista militar ouvido pela reportagem, a capacidade bélica do grupo é hoje “uma fração” da que existia antes do conflito. “A pressão de Israel secou os canais de suprimento; há muito tempo não recebem grandes quantidades de munição ou armamentos”, afirmou.
Pressão interna e cansaço da população
Moradores da Faixa de Gaza, cansados de 19 anos de domínio do Hamas e de dois anos de guerra, cobram que o grupo aceite o plano de paz apresentado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Países ocidentais que reconheceram um Estado palestino em setembro também defendem que o Hamas não participe do futuro governo dos territórios.
O plano de Trump
As negociações indiretas entre Hamas e Israel começaram na segunda-feira (6) no Egito. A proposta norte-americana determina que Gaza se torne uma área “desradicalizada e livre de terrorismo” e prevê:
- libertação dos 48 reféns israelenses ainda detidos (estima-se que 20 estejam vivos);
- anistia para combatentes do Hamas que entregarem as armas e se comprometerem com a convivência pacífica;
- passagem segura para membros que optarem por deixar Gaza.
Resposta inicial do Hamas
Na sexta-feira (3), o grupo afirmou aceitar a troca de todos os reféns por prisioneiros palestinos e propôs entregar a administração de Gaza a um governo palestino de tecnocratas, desde que haja consenso nacional e apoio árabe e islâmico. Nada foi dito sobre desarmamento ou anistia. O Hamas declarou que o futuro de Gaza deve ser discutido “numa estrutura nacional palestina inclusiva” da qual pretende fazer parte.
Ameaça de “aniquilação total”
No domingo (5), Trump declarou à CNN que o Hamas sofrerá “aniquilação total” se insistir em permanecer no poder. Gomes Filho considera improvável que o grupo volte a exercer protagonismo político: “Israel e Estados Unidos não permitirão. O Hamas pode tentar se reinventar com outro nome, mas, como Hamas, dificilmente terá espaço”.
Riscos futuros
Especialistas alertam que a decadência do Hamas não elimina o perigo de novos focos de radicalização. “O sofrimento da população cria terreno fértil para o surgimento de outros grupos”, avaliou Gomes Filho. Já o pesquisador Mkhaimar Abusada, da Universidade Northwestern, sustenta que a única saída para o Hamas é aceitar o plano de paz e transformar-se em partido político, embora reconheça a rigidez ideológica do movimento como obstáculo.
O destino do Hamas, portanto, depende da resposta definitiva à proposta americana, que pode marcar o fim do grupo como força militar ou abrir caminho para sua extinção.
Com informações de Gazeta do Povo