Antananarivo – Milhares de jovens malgaxes, mobilizados principalmente pelas redes sociais, protestam desde 25 de setembro contra o presidente Andry Rajoelina, do partido Tanora Malagasy Vonona (TGV), de centro-esquerda. O estopim foram os frequentes cortes de água e eletricidade, mas a insatisfação rapidamente se ampliou para denúncias de corrupção, pobreza e autoritarismo.
Segundo a Organização das Nações Unidas, ao menos 22 pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas nos enfrentamentos com as forças de segurança durante as três semanas de manifestações. O governo contesta os números e não apresentou balanço próprio.
Manobras políticas não acalmam as ruas
No fim de setembro, Rajoelina exonerou o então primeiro-ministro Christian Ntsay, dissolveu o gabinete e, poucos dias depois, nomeou o general Ruphin Fortunat Zafisambo como novo chefe de governo. A escolha de um militar foi interpretada pelos manifestantes como tentativa de militarizar a resposta aos atos.
Em discurso em cadeia nacional, o presidente declarou: “Quando o povo malgaxe sofre, eu também sinto essa dor”. A fala não conteve os protestos, que já se espalharam de Antananarivo para outras grandes cidades.
Rejeição ao diálogo proposto pelo governo
O coletivo Gen Z Madagascar, que coordena os atos, recusou a proposta de conversa apresentada pelo Palácio de Iavoloha. Em comunicado, o grupo classificou a iniciativa como “farsa” e reafirmou que “não dialoga com um regime que reprime, agride e humilha sua juventude nas ruas”.
Crise energética e desigualdade alimentam indignação
Somente um terço dos 31 milhões de habitantes do país tem acesso regular à eletricidade, de acordo com a Al Jazeera. Os apagões chegam a durar mais de oito horas por dia e são atribuídos à estatal Jirama, acusada de má gestão e corrupção. Para a Transparência Internacional, as reclamações atingem “o coração da vida cotidiana” dos malgaxes.
Embora Madagascar possua vastos recursos naturais, o Banco Mundial aponta que 80% da população vive abaixo da linha da pobreza. A economia, dependente das exportações de baunilha, níquel e têxteis, enfrenta sucessivas crises políticas desde a independência, em 1960.
Pressão pela renúncia de Rajoelina
Rajoelina assumiu o poder em 2009 após liderar uma revolta militar que derrubou Marc Ravalomanana. Ele foi eleito presidente em 2018 e reeleito em 2023, em pleito boicotado pela oposição. Agora, enfrenta o maior desafio de seu mandato, com manifestantes exigindo sua saída imediata, além da dissolução do Senado e da comissão eleitoral.
As forças de segurança respondem com gás lacrimogêneo e balas de borracha, enquanto estudantes universitários lideram as marchas que se tornaram o maior levante popular no país em anos.
Com informações de Gazeta do Povo