O Departamento de Estado dos Estados Unidos estuda impor restrições de visto às delegações de Brasil, Irã, Sudão e Zimbábue durante a 79ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, marcada para começar em 22 de setembro, em Nova York. A informação consta de um memorando interno obtido pela agência Associated Press (AP).
De acordo com o documento, as limitações avaliadas abrangeriam os deslocamentos dos representantes desses países fora da zona da ONU, aumentando o controle sobre diplomatas e autoridades presentes no encontro. A eventual medida inclui o Brasil, tradicional responsável por abrir os discursos na sessão inaugural da assembleia. Não está claro se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou integrantes de níveis inferiores da comitiva seriam afetados.
Fricção política bilateral
A possível restrição acontece em meio a críticas públicas do presidente norte-americano Donald Trump a Lula. O republicano se posiciona contra o processo judicial em curso no Brasil contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de tentativa de golpe, o que tem ampliado o desgaste entre Brasília e Washington.
Restrições adicionais ao Irã
Para o Irã, já submetido a regras específicas, o memorando propõe proibir diplomatas de frequentar redes atacadistas como Costco e Sam’s Club sem autorização prévia do Departamento de Estado. Segundo a AP, representantes iranianos utilizavam esses estabelecimentos para comprar produtos em grande quantidade e enviá-los a Teerã, contornando a escassez interna.
Síria recebe exceção
Enquanto quatro países podem ser alvo de novas barreiras, a Síria obteve, na semana passada, dispensa de restrições de deslocamento que vigoravam havia mais de dez anos. A liberação faz parte da estratégia do governo Trump de estreitar laços após a queda do ex-ditador Bashar al-Assad, em 2024.
Vistos já negados a palestinos
O documento também aponta que os EUA negaram vistos ao líder palestino Mahmoud Abbas e a toda a sua delegação, impedindo a participação na assembleia deste ano.
Antecedentes de cancelamentos
Em julho, Washington revogou os vistos de oito ministros do Supremo Tribunal Federal — entre eles Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes — além do procurador-geral da República, Paulo Gonet Branco. Moraes ainda foi sancionado sob a Lei Magnitsky.

Imagem: Ricardo Stuckert
Em 15 de agosto, o consulado dos EUA em São Paulo comunicou a revogação dos vistos da esposa e da filha de 10 anos do ministro da Saúde, Alexandre Padilha; o visto do próprio ministro já havia expirado em 2024. Na mesma época, perderam o documento Mozart Júlio Tabosa Sales e Alberto Kleiman, ligados ao programa Mais Médicos durante o governo Dilma Rousseff. O Departamento de Estado afirmou que a decisão buscava responsabilizar envolvidos no “esquema de trabalho forçado” de profissionais cubanos.
Na semana seguinte, surgiram relatos de que os vistos do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, bem como de familiares, também teriam sido cancelados.
A Associated Press informou ter procurado o Departamento de Estado dos EUA e as missões do Irã e do Brasil na ONU, mas não recebeu resposta até a publicação.
Com informações de Gazeta do Povo