Bruxelas, 28 set. 2025 – O ataque realizado no início do mês por 19 drones russos de madeira e isopor — avaliados em cerca de US$ 10 mil cada — contra território polonês expôs uma fragilidade estratégica da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Para neutralizar as aeronaves improvisadas, a aliança lançou mísseis Patriot de US$ 3,5 milhões e acionou caças F-35, cujo custo por hora de voo ultrapassa US$ 40 mil.
A resposta dispendiosa evidenciou o chamado “gap de capacidades” da Otan: sistemas concebidos para enfrentar caças de última geração e mísseis balísticos estão sendo utilizados contra dispositivos rudimentares, invertendo a lógica de custo-benefício. Segundo análise do New York Times, Moscou vem explorando essa desvantagem para obrigar os aliados a gastar somas elevadas em operações de defesa relativamente baratas.
Teste de prontidão
Autoridades em Varsóvia afirmam que o objetivo central do Kremlin foi medir o grau de prontidão da aliança. “A Rússia tentou nos testar sem iniciar uma guerra”, declarou ao Guardian o chanceler polonês Radosław Sikorski.
Diplomatas europeus ouvidos pelo Times classificaram a ofensiva como parte da guerra híbrida conduzida por Moscou. Relatório do Politico acrescenta que o problema vai além do custo: falta aos países-membros um nível intermediário de defesa aérea capaz de lidar com drones de baixo valor sem recorrer a armamentos de alta complexidade.
Busca por alternativas mais baratas
A própria liderança da Otan reconhece a insustentabilidade da estratégia atual. Em reunião recente com embaixadores da União Europeia, o secretário-geral Mark Rutte afirmou que interceptar drones com F-35 “não é viável a longo prazo”. Nenhum dos presentes contestou a avaliação, informou o Politico.
Entre as soluções em estudo estão sistemas a laser, mísseis de menor preço — como o Nimbrix, da sueca Saab — e sensores acústicos semelhantes aos usados pela Ucrânia para detectar aeronaves pelo som. Nesta semana, a aliança iniciou testes de novas tecnologias em bases de Troia (Portugal) e Den Helder (Holanda). Os exercícios incluem drones aéreos e submarinos para ampliar a vigilância, além de embarcações de superfície impressas em 3D, capazes de reduzir custos de produção.
Tensão regional
Os testes ocorrem em meio a novos incidentes: incursões com drones provocaram o fechamento temporário de aeroportos e atingiram instalações militares na Dinamarca. A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, não descartou envolvimento russo, embora Moscou negue participação. “A Rússia será uma ameaça para a Europa e para a Dinamarca durante anos”, afirmou.
Para o contra-almirante Massimiliano Rossi, chefe do Estado-Maior do Comando de Operações Especiais da Otan, as recentes incursões na Polônia, Estônia e Dinamarca demonstram a urgência de soluções de baixo custo. Ele destacou a impressão 3D como alternativa para fabricar equipamentos a preços reduzidos, experiência inspirada no conflito na Ucrânia, cujas forças especiais participaram dos exercícios na Holanda.
As discussões sobre novas camadas de defesa aérea devem continuar nas próximas reuniões ministeriais, enquanto a aliança procura equilibrar eficiência operacional e sustentabilidade orçamentária.
Com informações de Gazeta do Povo