O Uruguai, frequentemente citado entre os países mais seguros da América do Sul, enfrenta uma escalada de violência atribuída ao crime organizado. Nos últimos dois meses, dois atentados contra agentes do Estado acenderam o sinal de alerta do governo em Montevidéu.
Dois atentados em sequência
O primeiro ataque ocorreu quando a residência da procuradora-geral Mónica Ferrero foi invadida. Criminosos deixaram uma granada no local e efetuaram diversos disparos contra a casa. Dias depois, a sede do Instituto Nacional de Reabilitação, responsável pela administração do sistema prisional, também foi alvo de tiros, numa ação interpretada como recado à diretora da instituição, Ana Juanche.
Expansão de facções brasileiras
As autoridades uruguaias relacionam os episódios à atuação de facções transnacionais. A gangue Manos, considerada uma das mais influentes do Rio Grande do Sul, passou a ser investigada em 2024 por sua presença na fronteira. Segundo o centro de pesquisa Insight Crime, o grupo tenta controlar o tráfico de drogas no norte do Uruguai.
“Mais violento, complexo e conectado”
Em audiência parlamentar no início de dezembro, o ministro do Interior, Carlos Negro, afirmou que a criminalidade se tornou “mais violenta, mais complexa e mais conectada” ao longo dos últimos anos. Ele citou aumento de homicídios, extorsões, delitos cibernéticos e crimes ligados ao narcotráfico, além da entrada de novas gangues em diferentes territórios.
Negro comparou essas organizações a um vírus, pela capacidade de mutação. Segundo ele, os grupos se fragmentam, se fundem, migram e diversificam atividades de acordo com a disputa de mercado, confrontos internos ou ações do Estado. Como exemplo, o ministro mencionou o avanço do Primeiro Comando da Capital (PCC) em países como Peru, Equador, Venezuela e Chile.
Pressão sobre o sistema prisional
Dados oficiais mostram que o número de detentos no Uruguai passou de 8.324 em 2009 para 15.767 em 2024. Com 121% de ocupação, o país registra hoje a décima maior taxa de encarceramento do mundo. De acordo com o Insight Crime, a superlotação facilita o recrutamento de presos por facções e a expansão de suas redes além das fronteiras.
Porto de Montevidéu na rota da cocaína
Embora historicamente apresente baixos índices de violência, o Uruguai viu os homicídios crescerem desde 2018. Paralelamente, toneladas de cocaína saíram discretamente do país rumo à Europa, detectadas apenas na chegada ao destino final. O porto de Montevidéu virou ponto estratégico desse fluxo, consolidando o país como elo importante no comércio internacional da droga.
Com o agravamento dos ataques e a presença cada vez maior de facções estrangeiras, o governo uruguaio promete reforçar as ações de segurança para conter a criminalidade transnacional que ganha espaço em seu território.
Com informações de Gazeta do Povo