O Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Camex) definiu, em reunião nesta quarta-feira (30), uma solução intermediária na disputa entre a chinesa BYD e as montadoras instaladas no Brasil. O órgão decidiu antecipar para janeiro de 2027 a aplicação integral da alíquota de 35% sobre a importação de kits de montagem de veículos e, paralelamente, autorizou a BYD a importar até US$ 463 milhões (R$ 2,58 bilhões) em kits com tarifa zero durante seis meses, período em que a empresa ergue sua fábrica em Camaçari (BA).
Reivindicações opostas
A BYD pleiteava redução temporária das tarifas para carros semidesmontados, de 18% para 5% nos elétricos e de 20% para 10% nos híbridos, justificando que precisaria de um ano para nacionalizar componentes. A montadora investe R$ 5,5 bilhões na unidade baiana, instalada no antigo complexo da Ford.
No posicionamento público divulgado nesta semana, a companhia alegou trazer veículos “tecnológicos, sustentáveis e mais acessíveis” e criticou as rivais por manterem preços elevados. O vice-presidente da BYD no Brasil, Alexandre Baldy, acusou as concorrentes de “chantagem com o governo”.
Volkswagen, Toyota, Stellantis, General Motors e a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) reagiram, afirmando que benefícios exclusivos à BYD poderiam comprometer R$ 60 bilhões em aportes previstos até 2030 e eliminar até 50 mil empregos formais. As empresas temiam que o país se transformasse em uma simples plataforma de montagem, com baixa agregação tecnológica.
Alerta de governadores
Governadores de Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais e São Paulo enviaram carta ao governo federal pedindo o adiamento da votação na Camex. Para eles, a mudança tributária arriscava “desestruturar a cadeia automotiva nacional”, afetando empregos e investimentos nas regiões onde se concentra a produção de veículos.

Imagem: Gazeta do Povo via gazetadopovo.com.br
Avanço chinês no mercado
O embate ocorre em meio a uma ofensiva inédita das marcas chinesas. No primeiro semestre de 2025, a entrada de veículos da China quase igualou todo o volume de 2024, e essas marcas já respondem por 5,4% dos emplacamentos no país. Nos modelos eletrificados, BYD e GWM detêm mais de 80% das vendas de elétricos e 45% dos híbridos, pressionando marcas tradicionais como Jeep, Volkswagen, Chevrolet, Toyota e Hyundai.
Reação das montadoras
Após a decisão, a Anfavea disse entender que o governo considerou as bases da política industrial e classificou o período de seis meses de tarifa zero para a BYD como “o máximo aceitável” sem arriscar investimentos. A entidade declarou esperar que o tema esteja “definitivamente encerrado” e agradeceu ao Executivo pela “responsabilidade e previsibilidade”.
Com informações de Gazeta do Povo