Tóquio – O partido Sanseito, fundado em 2020, conquistou 15 assentos na Câmara dos Conselheiros do Japão nas eleições de 20 de julho, marcando um salto de 14 cadeiras e consolidando a emergência da direita nacionalista no país. Embora tenha ficado em sexto lugar geral, o resultado abalou a coalizão liderada pelo primeiro-ministro Shigeru Ishiba, do tradicional Partido Liberal Democrata (LDP), que perdeu 18 postos e deixou de deter a maioria na Casa.
A legenda é comandada por Sohei Kamiya, 47 anos, ex-gerente de supermercado e ex-professor de inglês. O político iniciou a carreira em 2007, quando criou o partido local Suita Shinsengai e foi eleito vereador na cidade de Suita, cargo que ocupou até 2012. Depois de passagem pelo próprio LDP e um período sem filiação, Kamiya ganhou projeção nacional ao lançar, em 2013, o canal ChGrandStrategy no YouTube.
Durante a pandemia de Covid-19, o canal difundiu conteúdos contrários às máscaras e à vacinação obrigatória, classificados por críticos como teorias conspiratórias. “Você tem a liberdade de usar máscara ou não. Você também deve ter a liberdade de não se vacinar se não quiser”, declarou Kamiya à emissora pública NHK em 2022.
Em 2020, o ChGrandStrategy deu origem ao Sanseito. O slogan “Japão em primeiro lugar” foi inspirado no ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump — figura admirada por Kamiya. Segundo a plataforma socialcounts.org, o canal do partido ultrapassa 400 mil seguidores, triplicando a audiência do canal mantido pelo LDP.
Controvérsias e recuos
Durante a campanha bem-sucedida de 2022, o líder do Sanseito foi criticado após afirmar que a sigla “não venderia o Japão ao capital judeu”. Depois do crescimento eleitoral, adotou tom mais cauteloso: “Não estou dizendo que devemos proibir completamente os estrangeiros ou que todos devem sair do Japão”, disse ele à Nippon Television, ao sustentar que o lema do partido visa “reconstruir os meios de subsistência do povo japonês” frente ao globalismo.

Imagem: JIJI PRESS via gazetadopovo.com.br
Pautas defendidas
Entre as propostas impulsionadas por Kamiya estão:
- Revogação do Artigo 9 da Constituição, permitindo forças armadas permanentes;
- Aumento do orçamento de defesa e posse de armas nucleares;
- Postura mais firme contra a China, considerada ameaça à segurança nacional;
- Pagamento de mesada estatal a crianças japonesas até 15 anos para combater a queda de natalidade;
- Incentivos para que mulheres tenham filhos, num contexto que, segundo ele, “exagerou na mentalidade de que todos devem trabalhar”.
Com a perda de maioria do governo na Câmara dos Conselheiros e sem controle prévio na Câmara dos Representantes, o avanço do Sanseito adiciona pressão sobre o gabinete de Shigeru Ishiba e reforça o protagonismo de Kamiya na reconfiguração do espectro político japonês.
Com informações de Gazeta do Povo