O Brasil pode enfrentar uma punição comercial muito mais severa do que a tarifa de 50% anunciada pelo presidente norte-americano Donald Trump na quarta-feira (30), caso o Congresso dos Estados Unidos aprove um projeto de lei que cria sanções automáticas a países que mantêm negócios com a Rússia, com alíquotas que podem chegar a 500%.
Comitiva ouviu aviso bipartidário em Washington
O alerta partiu de uma delegação de senadores brasileiros que esteve em Washington para tentar reverter o “tarifaço” já em vigor. Segundo o senador Carlos Viana (Podemos-MG), democratas e republicanos deixaram claro que a nova penalidade virá por meio de lei, diferentemente do decreto presidencial que elevou as tarifas para 50%.
“Há outra crise que pode nos atingir em até 90 dias”, relatou Viana. “Tanto republicanos quanto democratas afirmaram que aprovarão uma lei prevendo sanções automáticas a todos os países que negociam com a Rússia.”
Projeto bipartidário prevê sobretaxa de 500%
O texto em discussão no Capitólio é patrocinado pelos senadores Richard Blumenthal (Partido Democrata) e Lindsey Graham (Partido Republicano). A proposta estabelece tarifas secundárias que variam entre 100% e 500% sobre produtos de nações que continuem comprando de Moscou.
Em 8 de julho, Trump já havia ameaçado fixar alíquotas de 100% caso a guerra da Rússia contra a Ucrânia não fosse encerrada em 50 dias, mas o projeto legislativo é ainda mais duro.
Agronegócio brasileiro depende de insumos russos
O Brasil importa volumes significativos de fertilizantes e óleo diesel da Rússia, considerados essenciais para o agronegócio. Para Washington, essas compras ajudam a sustentar financeiramente o esforço de guerra russo.
A senadora Tereza Cristina (PP-MS), ex-ministra da Agricultura, afirmou que o tema foi mencionado por parlamentares e empresários norte-americanos durante as reuniões. “Eles entendem que quem compra da Rússia gera recursos para o conflito”, disse.

Imagem: criada utilizando Dall-E via gazetadopovo.com.br
Governo defende importação de fertilizantes
Líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA) argumentou que o Brasil não dispõe de alternativas suficientes para substituir os fertilizantes russos. “Ninguém faz o que quer, faz o que precisa”, declarou. Sobre combustíveis, ele ressaltou que as compras são realizadas por empresas privadas.
Wagner também afirmou que eventuais tratativas para flexibilizar a lei devem ocorrer entre governos e somente após a aprovação pelo Congresso norte-americano, enfatizando a tradição diplomática multilateral do Brasil.
Negociação diplomática
O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Nelsinho Trad (PSD-MS), informou que pretende retomar o tema em encontros com autoridades dos EUA na próxima semana. Ele estuda propor exceções para países que comprovem a necessidade de importar insumos russos.
Enquanto isso, o setor agropecuário brasileiro acompanha com preocupação o avanço do projeto que pode multiplicar por dez o impacto tarifário já imposto pelos Estados Unidos.
Com informações de Gazeta do Povo