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EUA investigam agronegócio brasileiro por suposto desmatamento ilegal e barreiras ao etanol

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O Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR) abriu, em 23 de julho de 2025, uma investigação contra o Brasil sob a Lei de Comércio norte-americana, a mesma utilizada pelo então presidente Donald Trump, em mandato anterior, para impor tarifas à China. O processo aponta práticas consideradas desleais no agronegócio brasileiro, entre elas a utilização de áreas com desmatamento ilegal e restrições ao etanol norte-americano.

Principais alegações

No documento que deu início à apuração, o USTR sustenta que produtores rurais brasileiros empregam terras desmatadas ilegalmente para criar gado e cultivar grãos como soja, milho e outros, obtendo assim uma “vantagem competitiva injusta” por redução de custos e ampliação da área disponível.

O texto cita ainda dificuldades para o etanol dos Estados Unidos entrar no mercado brasileiro, o avanço do sistema de pagamentos Pix, o comércio de produtos piratas na Rua 25 de Março (São Paulo), questões de corrupção, propriedade intelectual e tarifas preferenciais concedidas por Brasília a parceiros como México e Índia.

Argumento de protecionismo ambiental

Para o economista Felippe Serigati, do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGVAgro), a retórica ambiental utilizada pelos EUA reproduz barreiras semelhantes às erguidas por países europeus e serve para proteger o produtor doméstico. Ele afirma que grande parte do desmatamento no país ocorre em áreas com conflitos fundiários e não resultaria de uma pecuária profissional voltada ao mercado.

Comparação de áreas protegidas

Dados da Embrapa Territorial indicam que 66,3% do território brasileiro está coberto por vegetação protegida, dividida em unidades de conservação integral (10,4%), terras indígenas (13,8%), áreas devolutas não cadastradas (16,5%) e reservas legais e Áreas de Preservação Permanente em propriedades rurais (25,6%). Nos Estados Unidos, segundo o Departamento de Agricultura (USDA), apenas 19,9% do território possui proteção ambiental, enquanto 74,3% é destinado a atividades agropecuárias.

Repercussão no setor

Entidades como a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) preferiram não comentar o caso. Já a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) divulgou nota apontando que tensões políticas internas brasileiras motivam a ofensiva norte-americana e criticou o ambiente de instabilidade em Brasília.

EUA investigam agronegócio brasileiro por suposto desmatamento ilegal e barreiras ao etanol - Imagem do artigo original

Imagem: Fabio Rodrigues-Pozzebom via gazetadopovo.com.br

Efeito sobre o mercado de etanol

Os EUA alegam que tarifas mais altas aplicadas pelo Brasil ao etanol inviabilizam a reciprocidade que vigorava antes, comprometendo o comércio de um produto em que ambos os países respondem por 80% da produção mundial. Em reação, a Bioenergia Brasil e a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) defenderam a manutenção de um fluxo bilateral “historicamente construído sobre bases de respeito mútuo” e destacaram programas brasileiros como RenovaBio, Combustível do Futuro e Mover, todos alinhados, segundo as entidades, ao compromisso de desmatamento zero.

Motivação política na avaliação de especialistas

Felippe Serigati avalia que a cronologia das ações indica motivação política. Ele lembra carta enviada por Trump ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva citando o ex-presidente Jair Bolsonaro e questionando decisões do Supremo Tribunal Federal. O economista observa ainda que, nos últimos 15 anos, a balança comercial foi superavitária para os EUA, e que a tarifa média ponderada sobre produtos brasileiros é superior à cobrada pelo Brasil sobre itens norte-americanos.

Empresários do setor temem a perda de até US$ 23 bilhões em exportações até 2026 e pedem que o governo brasileiro negocie para evitar novos entraves comerciais.

Com informações de Gazeta do Povo